Jung começou registrando suas fantasias e imaginação ativa em 1913 e, embora a “doença criativa” chegasse ao fim em 1919, Jung continuou a contribuir para O Livro Vermelho e a revisá-lo até aproximadamente 1930, quando o trancou num armário em Kusnacht, onde ele permaneceu mais ou menos até 1984, quando a família de Jung o transferiu para um cofre de banco em Zurique. Suas páginas in-fólio, encadernadas em couro vermelho, explodem de imagens fantásticas e uma caligrafia complicada, talvez obsessiva. Contam a história às vezes fascinante, às vezes perturbadora, da jornada interior de Jung ao encontro do “espírito das profundezas” para desalojar o “espírito da época” e servir “ao inexplicável e ao paradoxal”, de modo a produzir “o significado supremo” e “o Deus ainda por vir”. Serpentes, dragões, gigantes, os mortos e outras criaturas menos identificáveis existem em abundância e o Jung interior se vê em situações insólitas, incluindo incesto, assassinato e canibalismo. Como foi iniciado mais ou menos nessa época que Os Sete Sermões aos Mortos, os leitores não ficarão surpresos ao encontrar a mesma linguagem às vezes poética, às vezes bombástica - a linguagem, disse Jung, dos arquétipos - e, dependendo de nossos gostos, isso pode nos fascinar ou nos desconcertar. Acredita-se que Jung estivesse relendo Assim falou Zaratustra, de Nietzsche, quando começou O Livro Vermelho e, para qualquer um familiarizado com Nietzsche, a influência é evidente, tanto no estilo do Livro Vermelho quanto em sua mensagem. Contudo, a prosa zombeteiramente bíblica de Nietzsche, com frequência cheia de humor e elegância, nunca é tão pesada quanto a de Jung. [o próprio Jung reconheceu o débito para com Nietzsche ou pelo menos uma de suas figuras interiores o fez. A certa altura, enquanto Jung se debatia com dúvidas acerca do projeto, uma voz lhe disse: “Nietzsche fez isso melhor que você.” C. G. Jung, The Red Book, p. 235 n. 65. Uma leitura paralela do Livro Vermelho e Assim falou Zaratustra poria muitos ecos em destaque. Por exemplo, na p. 231 Jung escreve: “Procura o caminho? Aconselho-o a se afastar do meu. Para você, pode ser o caminho errado.” Zaratustra diz a seus seguidores: “Agora, meus discípulos, vou-me embora sozinho! Partam também e fiquem sozinhos!” e “vocês ainda não tinham procurado quando me encontraram”. (Friedrich Nietzsche, Thus Spake Zarathustra, traduzido por R. J. Hollingdale [Londres: Penguin, 1969], p. 103). As observações de Jung sobre o espaço gelado e vazio da solidão (p. 245) são uma síntese do sermão de Zaratustra: “Do Caminho do Criador” (pp. 88-91). Esses são apenas alguns exemplos. (...).] Para Jung, O Livro Vermelho foi a fonte de tudo que se seguiu e as ideias pelas quais é hoje famoso - o inconsciente coletivo, os arquétipos, a individuação - emergiram todas, disse ele, do muco e da casca de ovo desse estranho nascimento. (...). Contudo, embora seja certamente uma obra fascinante, com frequência muito envolvente, os méritos literários do Livro Vermelho são discutíveis. A sugestão de seus tradutores de que Jung “preferiu não se tornar conhecido nesta forma literária” pode ser lida como um tanto presunçosa, visto que não há garantia de que Jung teria encontrado aclamação literária com o trabalho se tivesse resolvido publicá-lo. Mas seu valor literário não é o que o torna importante e O Livro Vermelho lembra muito o Spiritual Diary [Diário Espiritual] (1745-1765), de Swedenborg, obra cujos méritos literários são francamente limitados. Como Jung, Swedenborg entrou em “sonhos despertos” - imaginações ativas - e registrou, durante vários anos, suas experiências e conversas com os residentes do céu, do inferno e de um reino intermediário que chamou de “mundo espiritual”. Jung, nós sabemos, leu Swedenborg e, juntamente com Nietzsche, a influência de Swedenborg pode ser vista, em especial, nos comentários de Jung sobre a natureza do inferno. Para Jung, “o caminho para o nosso além passa pelo Inferno e de fato pelo nosso Inferno particular... Tudo o que é odioso e repulsivo é do nosso Inferno particular”. [C. G. Jung, The Red Book, p. 264] E a certa altura, Jung se lamenta: “Sucumbo num monte de esterco.” [ibid., p. 275] Swedenborg ensinava que cada um de nós cria seu próprio inferno por meio das escolhas que faz na vida e a descrição feita por ele dos reinos infernais após a morte, cheio de excremento, de sordidez e de fedores indescritíveis, é tão asquerosa e repulsiva quanto a de Jung. A maioria das pessoas que compram O Livro Vermelho, contudo, o faz mais pelas pinturas de Jung que pela narrativa. Jung repetia que não era um artista quase tão frequentemente quanto insistia que era um cientista, mas quem passa algum tempo contemplando as imagens fascinantes que praticamente saltam de O Livro Vermelho achará difícil concordar com ele. (...). Jung hesitou com relação à publicação de O Livro Vermelho e finalmente resolveu não fazê-lo, não só porque o misticismo que lhe enchia as páginas arruinaria seu incerto prestígio científico. (...). (LACHMAN, 2012, pp. 230-32 e p. 269)
@SalamandraMatutu3 жыл бұрын
Ué, não falaram praticamente nada do filme!
@vlosacco33013 жыл бұрын
Você não deve ter acompanhado o vídeo lamento
@mariaseibert93863 жыл бұрын
Boa tarde
@fabiola59-d6x3 жыл бұрын
não consegui acessar por esse link,🤔.
@ritamorillo20203 жыл бұрын
Tarde de estudos e grande aprendizado. Recordar nossos antepassados e nossas raízes, enriquecedor🤩
@ritamorillo20203 жыл бұрын
Grupo maravilhosooo. Adoro.
@ritamorillo20204 жыл бұрын
Participei de vários desses encontros. Maravilhosos, momentos que guardo até hoje em minhas memórias. Saudades eternas. Espero podermos voltar a esses encontros. Gratidão Vitor é a sara por nós proporcionar isso.😘
@ritamorillo20204 жыл бұрын
Que ótimo poder rever o encontro é fazer as anotações que não foram possíveis na hora. Maravilhoso como sempre🤩
@ElaineipSouza4 жыл бұрын
Onde encontramos esse filme?
@VictorLosacco4 жыл бұрын
olá, Elaine, vc encontra no link abaixo www.bing.com/videos/search?q=la+bele+verte&docid=608042913919665542&mid=644B2FBA74EC217A1776644B2FBA74EC217A1776&view=detail&FORM=VIRE