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Duas picapes pretas freiam bruscamente. Sete homens com camisetas negras pulam dos veículos empunhando pistolas e fuzis prontos para o disparo. Apontam na direção de dois camponeses que jogam sinuca diante de um bar na zona rural de Porto Velho (RO). Ao notarem a minha presença e a do fotógrafo Fernando Martinho, perguntam quem somos, com uma das armas voltada para o meu rosto. Passa um pouco do meio-dia. Minutos antes, uma tempestade havia transformado as estradinhas sem asfalto da região num lamaçal.
“Sou jornalista. Aquele ali é o fotógrafo”, respondo, de mãos para cima. Só então um dos homens, com barba e chapéu de palha, abaixa o fuzil .565 e pede minha carteira profissional. Quero saber quem são eles. Dizem ser policiais militares. No entanto, não usam uniformes nem etiquetas com os próprios nomes. As picapes tampouco exibem qualquer tipo de identificação.
Os sete revistam os camponeses e, logo em seguida, o dono do bar. Também param dois jovens que transitavam numa motocicleta. “Tomem cuidado! Vocês estão no meio de uma guerrilha…”, me avisa o policial com chapéu de palha. O grupo não nos impediu de fotografar toda a ação, mas solicitou mais de uma vez que não divulgássemos o rosto de nenhum dos agentes nem as placas dos carros.
Naquela quinta-feira de dezembro, estávamos ali, a 130 km do Centro de Porto Velho, aguardando autorização para visitar o acampamento Tiago dos Santos, organizado pela Liga dos Camponeses Pobres. A LCP, fundada em 1999, é o principal movimento social de Rondônia em defesa da reforma agrária - ou “revolução agrária”, como costuma apregoar. Os trabalhadores rurais que a compõem pregam a “morte do latifúndio” e seguem princípios do comunista Mao Tsé-Tung, que liderou a Revolução Chinesa em 1949. Os trinta acampamentos mantidos pela liga no estado recebem a denominação de “áreas revolucionárias”.
Já os sete homens de camisetas pretas estavam na zona rural da capital rondoniense para uma caçada. Procuravam seis acusados de matar um tenente e um sargento da Polícia Militar em outubro do ano passado. A delegada que investiga o caso, Leisaloma Carvalho, indiciou dez integrantes da LCP que vivem no acampamento Tiago dos Santos pelos assassinatos. Quatro deles foram presos, mas soltos em poucos dias por falta de provas. Os outros seis estão foragidos porque já tinham ordens de prisão por crimes anteriores: homicídio, latrocínio e assalto, segundo relato de Carvalho, que não mostrou evidências, alegando que o inquérito corre em sigilo.
A Associação Brasileira de Advogados do Povo (Abrapo), uma entidade sem fins lucrativos que defende os acampados, nega o envolvimento dos dez no episódio: “O que me surpreende é que a polícia tenha adotado nenhuma outra linha de investigação além da que criminaliza o acampamento”, diz a representante Lenir Correia Coelho. Ela também lança dúvidas sobre a idoneidade do fazendeiro que disputa com os acampados a área ocupada - perto do local onde os policiais foram mortos.