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Conversas Vadias
CD1 parte 3
Adelino Gomes, jornalista do Público
Apaziguar o Corpo, Capitalismo, Contemplar o Mundo e o Futebol
"Vieira diz que se deviam usar outros métodos (para apaziguar o Corpo), eram os métodos que se usavam na Companhia (de Jesus): as recitações dos textos sagrados, os jejuns, as chibatadas (...) para que realmente da mesma maneira a cabeça se torne limpa e nós possamos ouvir - diz agora o Vieira - a "voz de Deus" e que me vai fazer ultrapassar o tempo e o espaço, se ha liberdade e destino.
"O grande feito do Camões foi contar o que se passava na Ilha dos Amores e não tirar conclusão nenhuma. Nenhuma! (...) Ele não diz o que fizeram esses marinheiros depois de terem aquela experiência extraordinária de terem vivido na Ilha dos Amores. Chegaram a Lisboa, o que é que fizeram? Não se sabe nada. Camões estava cansado? O Vieira não aconteceu assim. Quando ele pensou assim uma Ilha doa Amores, afora isso deve ser dito para o mundo inteiro. Homem porque o Homem deve apaziguar o seu corpo e ouvir o que já não a voz da Deusa, mas a voz do Universo, pensar a sua essência."
"Para que essa Ilha dos Amores possa existir, que o Homem possa entender que o Capitalismo existe não para ficar continuamente, ter mais lucro, descontando mais juros e pagando mais dívidas ou pedindo mais dinheiro emprestado mas para terminar num ponto em que a Economia desapareça completamente, em que haja tudo para todos, primeiro ponto."
"Segundo ponto: que aí o Homem possa passar à sua verdadeira vida, que é a de contemplar o Mundo, de ser poeta do mundo, de tal forma que ninguém se preocupe por fazer tal e tal obra, mas por ser tal ou tal objecto no mundo. Por ser único no mundo, entre os tais biliões que existem. E isso aí é algo que muita gente hoje pode ter como ideal. (...) E que talvez um dia tome conta de todo o Mundo. E quando o nosso amigo diz "Quinto Império" ele está-se a referir aos quatro que desabaram e aquele Império é o Quinto, mas não há Sexto, é aquilo que ficará para todo o sempre."
"No século em que ele (Vieira) viveu não havia muita coisa que hoje. Nem havia esse tipo de Economia que hoje há. As primeiras pessoas que têm o tempo livre, que talvez nunca mais trabalhem, são as que chamamos "desempregados", como se houvesse emprego para eles. E nós temos que resolver esse problema de alimentar e de instruir, e educar os Homens de tempo livre para que eles sejam plenamente os tais "poetas à solta"
"O Futebol, o Jogo dos Bancos, dos políticos que não se entendem entre si, em lugar de se ajudarem uns aos outros nessa tarefa difícil que é administrar um País, em que se que ao mesmo tempo de olhar o presente e ter a maior confiança no que se pode fazer ao Futuro."
"Quanto ao Futebol, o que aconteceu é que tem como origem o gosto do Homem de desenvolver, de tornar poderoso o seu Corpo, desde os Gregos. Simplesmente o Desporto foi invadido pelo Capitalismo, como aconteceu com muitas outras coisas. Não podemos por de parte a ideia de que o Capitalismo domina hoje a nossa vida e tem que dominar, porque só uma Economia Capitalista pode chegar até ao desenvolvimento pleno do Mundo, acabar essa guerra contra a carência que vem de tão longe e chegar a um ponto em que toda a Economia desaparecerá, em que será uma recordação do passado, como queriam os tais portugueses do século XIII. É curioso, a melhor maneira de ser revolucionário em Portugal é a de ser Conservador do Século XIII, porque eles queriam apenas que as crianças pudessem crescer, desenvolver-se e chegar a adultas, sem nós os adultos perdermos a criança que há dentro de nós. Que a criança se desenvolvesse sem nenhuma pressão deformante, plenamente à sua vontade, tudo aquilo a que nós podemos chamar "Liberdade". Queriam que a vida se tornasse gratuita. Não que se tornasse mais barata do que era, que se tornasse gratuita."
"Terceira coisa: que as cadeias desaparecessem para sempre, um monumento de um Passado que nem recordado seria."
"Se isto foi uma discussão, foi uma coisa boa, no sentido etimológico da palavra, que é sacudir. Já que abanar as cabeças é bom, para saber se existir dentro delas alguma coisa."
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