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Este registo data de 3ª feira, dia 17 de Maio de 1955, foi efectuado pelos Serviços Técnicos da Emissora Nacional, no Cine-Teatro Monumental, em Lisboa, e trata-se do registo da récita do drama histórico de JÚLIO DANTAS intitulado «A CEIA DOS CARDEAIS», originalmente levada a cena no dia 28 de Março de 1902, no então Teatro D. Amélia, actual TEATRO NACIONAL DE SÃO LUIZ, delineada para os talentos enormes dos irmãos AUGUSTO ROSA, JOÃO ROSA e EDUARDO BRAZÃO, que projectou o escritor no mundo, tendo 50 edições nas mais diversas línguas em 50 anos, atingindo 200 mil exemplares, o que era incalculável naqueles tempos da nossa Literatura.
Esta foi a perfomance levada a cena por Ribeirinho a 17 de Maio de 1955, no Cine-Teatro Monumental, e interpretada por «três gigantes» dos palcos portugueses, como diz sabiamente a minha querida mãe:
ALVES DA CUNHA - Cardeal Ruffo, arcebispo de Óstia e deão do Sacro Colégio
ASSIS PACHECO - Cardeal Gonzaga, bispo de Albano e camerlengo
JOÃO VILLARET - Cardeal de Montmorency, bispo de Palestrina
Esta foi a peça de teatro com que começou a história do teatro radiofónico, na emissão de 28 de Agosto de 1934 da Emissora Nacional, ainda durante o período das emissões experimentais. Nessa récita, apresentada por FERNANDO PESSA, foram intérpretes ALEXANDRE DE AZEVEDO (Cardeal Gonzaga), HENRIQUE DE ALBUQUERQUE (Cardeal Ruffo) e SAMWELL DINIZ (Cardeal Montmorency).
Em 23 de Maio de 1961, esta peça regressaria ao microfone da rádio pública, na rubrica "NOITE DE TEATRO", sendo intérpretes ASSIS PACHECO (Cardeal Gonzaga), RAUL DE CARVALHO (Cardeal Ruffo) e PAIVA RAPOSO (Cardeal de Montmorency), depois, em 30 de Abril de 1971, no TEATRO DAS COMÉDIAS da EMISSORA NACIONAL, sendo intérpretes ASSIS PACHECO (Cardeal Gonzaga), RAUL DE CARVALHO (Cardeal Ruffo) e ÁLVARO BENAMOR (Cardeal de Montmorency), e finalmente, a 17 de Abril de 1987, no TEMPO DE TEATRO da RDP ANTENA 1, sendo intérpretes ASSIS PACHECO (Cardeal Gonzaga), ROGÉRIO PAULO (Cardeal Ruffo) e CANTO E CASTRO (Cardeal de Montmorency).
Sempre discutido e talvez sempre discutível, o ilustre académico que o multifacetado ALMADA NEGREIROS enquanto jovem julgou desfeitear para a posteridade com o seu MANIFESTO ANTI-DANTAS e POR EXTENSO (1915), uma rapaziada cheia de piada, a propósito da estreia da «SOROR MARIANA», celebrizada mais tarde por LIA GAMA e IVONE SILVA, é hoje considerado um grande cultor da língua portuguesa, tão importante na escrita quanto o seu detractor, que talvez lhe invejasse o sucesso.
JÚLIO DANTAS tem obras notáveis de grande e sonante prosa, sobretudo no teatro, a começar com «O QUE MORREU DE AMOR» (1899), um grande triunfo de EDUARDO BRAZÃO, moldando depois uma personagem teatral que se tornou num dos grandes mitos portugueses, «A SEVERA» (1901), traçada para o génio de ÂNGELA PINTO, que tentou tantas, tão diversas e ilustres actrizes como EMÍLIA DE OLIVEIRA, ESTER LEÃO, JÚLIA MENDES ou PALMIRA BASTOS, sendo uma das mais faladas AMÁLIA RODRIGUES, em 1955, encenada pelo RIBEIRINHO, e muito desconsiderada pelos críticos, em especial Vítor Pavão dos Santos, que afirmou que o papel não era para ela, e que nunca em Portugal ninguém escreveu teatro para a sua personalidade. O mesmo já não aconteceu com LENA COELHO, filha de CARLOS COELHO e HELENA TAVARES, irmã de CAROLINA TAVARES e notável cantora das DOCE, ao lado de FÁTIMA PADINHA, LAURA DIOGO e TERESA MIGUEL. Nessa Severa, Lena obteve o seu supremo triunfo, ao lado de CARLOS QUINTAS, MARIA JOÃO ABREU, HENRIQUE VIANA, CARLOS ZEL e JOSÉ RAPOSO, quando foi levada a cena pelo irascível Sérgio de Azevedo, que a quis obrigar a representar um dia depois dum aborto espontâneo. E recentemente, obteve uma nova versão de FILIPE LA FÉRIA no TEATRO POLITEAMA, num grande triunfo de FILIPA CARDOSO, ao lado de ANABELA, PAULA SÁ e JOÃO FRIZZA.
No seu tempo de jovem autor, JÚLIO DANTAS era um dramaturgo que enfrentava a censura, tendo peças proibidas como «UM SERÃO NAS LARANJEIRAS» (1903), um notável texto teatral que só em 1958 o grande encenador RIBEIRINHO conseguiu reabilitar, contra a vontade do regime e da censura, e foi um êxito de público, que pôde aplaudir EUNICE MUÑOZ, CURADO RIBEIRO e MARIA LALANDE nessa perfomance.
Depois da tradução aligeirada da «ANTÍGONA» de SÓFOCLES, o DANTAS ofereceu à EMPRESA REY COLAÇO ROBLES MONTEIRO mais duas peças, o «FREI ANTÓNIO DAS CHAGAS» (1947), um grande triunfo de ALVES DA CUNHA, EUNICE MUÑOZ, AMÉLIA REY COLAÇO, SAMUEL DINIZ, MARIANA REY MONTEIRO e RAUL DE CARVALHO, e a fraca mas interessante comédia «OUTONO EM FLOR» (1949), um grande triunfo de EUNICE MUÑOZ, ao lado de PALMIRA BASTOS, AMÉLIA REY COLAÇO e MARIA MATOS, «quatro gigantes» como diz sabiamente a minha querida mãe Lena Catarino. E, depois desta obra, nada mais para o palco voltou o dramaturgo a escrever.