Рет қаралды 17,247
Há 32 anos, 3,7 mil estacas de maçaranduba cravadas no fundo do rio sustentam as duas estruturas - uma termelétrica e uma unidade produtora de celulose - que formam o complexo industrial. Do lado de fora, é possível ver sob ele os enormes troncos de madeira escura que emergem da água. Construídas sobre plataformas flutuantes no Japão, as duas unidades viajaram três meses pelos Oceanos Índico e Atlântico em 1978, até adentrar os Rios Amazonas e Jari. A cena daquela estrutura monstruosa saindo por detrás da floresta numa curva do rio, registrada em filme, ainda hoje parece saída de uma história de ficção científica. Uma reportagem da revista National Geographic publicada dois anos depois descreveria da seguinte maneira o espanto de uma criança que presenciara o fato: "Uma cidade está vindo pelo rio!".
A aventura transoceânica era parte do plano do bilionário americano Daniel Ludwig, que em 1967, aos 70 anos de idade, comprara no Brasil por US$ 3 milhões uma área quase do tamanho do estado de Sergipe, na fronteira do Pará com o Amapá. Integravam seu império estaleiros, refinarias de petróleo e empreendimentos imobiliários em 15 países. A construção de um pólo agroindustrial em plena floresta tropical entraria para a história como mais uma tentativa de exploração estrangeira na Amazônia - assim como já acontecera com o projeto de outro americano, o legendário Henry Ford, que fracassou na tentativa de produzir borracha na região do Rio Tapajós. No Jari, Ludwig abriu estradas, construiu portos, cultivou arroz e criou búfalos. Também substituiu áreas de mata nativa pelo plantio da Gmelina arborea, ou melina, uma espécie asiática trazida para a Amazônia para alimentar a fábrica de celulose. "Foi quase como desenvolver um país", disse ele, numa de suas raras entrevistas. "O começo da empresa foi bonito e melhorou muito a região", afirma o paraense Francisco Leite, de 59 anos, que na ocasião trabalhava como vaqueiro no Jari. "Quando vi o Ludwig sentado na carroceria de uma Toyota, branquinho, vestindo uma camisa assim muito simples, quase não acreditei que era ele o dono daquilo tudo."
Os problemas apareceram rapidamente. A melina não se adaptou ao clima local. As plantações de arroz superdimensionadas não vingaram. O governo militar não atendeu às reivindicações do americano para que assumisse os custos de infra-estrutura. A operação consumiu
US$ 1 bilhão e não rendeu lucros, que Ludwig planejava doar a seu instituto de pesquisa contra o câncer. Derrotado pela burocracia brasileira e pela floresta, ele deixou a Amazônia.