Muito importante buscar construir um padrão que identifique a existência de criadouros do Aedes aegypti. Contudo, penso que chegar a esse padrão é algo muito difícil! A questão das fachadas pode ser o começo, mas é algo muito subjetivo e pode até resvalar em preconceito, pois é muito comum associar a existência de criadouros com pobreza, desleixo, etc. Essas variáveis estão presentes na equação, mas não são necessariamente decisivas. Sou agente de combate à endemias e constato, empiricamente, que fachadas bem conservadas, bem construídas não são garantia de ausência de criadouros. Na cidade em que atuo, Araraquara-SP, encontramos focos em profusão tanto em condomínios de luxo quanto em bairros periféricos de pessoas de baixa renda. Eu penso que análise de fachadas pode ser o início, mas é preciso incrementar essa análise com outras variáveis como foi dito pelo professor. Variáveis como área de sombreamento, perfil dos habitantes do bairro, perfil do bairro (bairro residencial, comercial, dormitório, etc), quantidade de moradores, faixa etária destes, ocupação, nível de escolaridade, etc., são variáveis que podem ajudar na construção de um padrão que possa, minimamente, indicar probabilidade de se encontrar ou não foco de larvas. Quanto à questão de o atual sistema de combate ao mosquito ser caro, penso que o encarecimento se dá, também, pelo direcionamento não muito eficiente dos gastos dos recursos destinados a esse trabalho. Será que não será mais eficiente se houver investimento em campanhas de esclarecimento da população do que os gastos em veneno, em equipamentos e outros recursos usados para a tentativa de controle da população de mosquitos? E quando digo campanhas, penso em informações inseridas em novelas (algo que foi muito comum há tempos atrás nas novelas da Globo na forma de "merchandising"), em notícias veiculadas exaustivamente nos jornais da mídia tradicional, etc. Penso que se fizéssemos campanhas dessa envergadura poderíamos conseguir a adesão da população a esse trabalho de controle dos criadouros. Eu penso que a utilização de IA como ferramenta de trabalho tende a se expandir por inúmeros campos da atividade humana mas há que se considerar uma característica importante da IA: ela é um banco de dados de experiências passadas. Tudo o que ela faz é "medir" as probabilidades de eventos passados tornarem a se repetir. Ora, sabemos que o Aedes tem um grande poder de adaptação, vale dizer, de criar novos padrões que se diferenciam dos padrões anteriores. Pequenos exemplos dessas mudanças: de "água limpa" passamos para água com certa quantidade de matéria orgânica como passível de se tornar criadouro; trabalhos mostram a existência de criadouros de larvas em águas com concentração de sal elevada. Esses dois pequenos exemplos dão mostras de como o mosquito está a se adaptar às transformações antrópicas do meio em que vive! Nesse sentido, há que se pensar na volatilidade de padrões relativos ao mosquito e aos seus hábitos reprodutivos. Talvez essa variável deva ser também acrescida às demais variáveis que pretendem "ensinar" o programa de IA. De todo modo é louvável a pesquisa e o esforço dos cientistas em utilizar essa ferramenta para aprimorar as ações de controle do mosquito. Parabéns!
@gersonlbarbosa4 ай бұрын
Muito obrigado @nelsonasc pelos comentários, muito pertinentes. Com certeza os criadouros não estão somente nesses locais 'mais vulneráveis', mas a chance é maior, então seria uma forma de 'priorizar' ações. Tudo isso que vc comentou vamos implementar nos novos estudos que estamos conduzindo e a proposta é aprimorar cada vez mais a ferramenta e direcionar as ações e com isso diminuir o impacto da doença. O trabalho que vcs agentes fazem é muito importante, mas muitas vezes pode também ser frustrante porque os resultados não conseguem atingir os objetivos. Parabéns pelo seu trabalho e ficamos à disposição para discutir mais sobre o assunto, pois sua contribuição e de seus colegas que atuam na linha de frente é muito importante para o aprimoramento de qualquer ferramenta que possa ser implementada.