Canta agora o som da primeira lágrima na despedida, na primeira dança da chegada. Valsa o longe do desaguar da transparência da vontade, do destino interior do sal que pinta o rosto num caminho onde há peixes invisíveis e pássaros que se desenham nos arquipélagos dos olhos. Deixa cair esse Outono para a tempestade que te dança na boca. No verso primeiro de todos os poemas que soluças nas esquinas do princípio da noite... Bebe devagar o que dos ecos da casa te dissem. A morte chega devagar para quem sonha. Amanhã partes rumo à saudade. Um tapete na frente da casa e uma porta de passados entre aberta para o futuro. Há moradas sem nome a que chamamos de alma e de amores maduros como os frutos ou o trigo ou o sol. Quisemos adormecer juntos o fim dos dias, as dores que nos alcançam os ossos e a musicalidade do poema sonoro do choro. As crianças choram porque amam infantilmente o futuro dos barcos que se despem no agora. Não abandono a lágrima da criança. Recebo-a nas minhas mãos com o gesto paternal e desenho-lhe as flores da primavera, os gestos serenos de quem brinca na praia, de quem abriga a fome e as medalhas heróicas de outros continentes. Abrigo a fome da lágrima. Bebo a sede da lágrima. A dor da lágrima. Por isso chora nesta cidade enquanto brincas aos unicórnios e às fadas e as infâncias de todo o crescimento. Cresce devagar enquanto a lágrima te veste de saudades. E dancemos no trajecto desta lágrima que se prolonga num caminho de castanheiros onde sentados diante da lareira olhamos a imensidão da noite, relendo cartas antigas num sorriso de verdes esperanças de novos encontros.