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Aquelas foram noites do balacobaco naquele Março de 1985 na sala Funarte em Brasília. Balacobaco era uma expressão que o Dinho usava, mas pertence a uma outra história, não a essa que aqui se conta. Portanto roubo a expressão, mas deixo o Dinho e o Capital Inicial do lado de fora da sala, de resto como muitos outros que ficaram sem ingressos. A bilheteria fechou mais cedo, já que foi tudo vendido dias antes desse fim de semana triunfante da Legião Urbana em 7, 8, 9, 10. Lá dentro muitas caras novas na plateia, num vislumbre do que seria a vida da banda dali para frente, sucesso e casa cheia até o fim e além. Qualquer legionário de carteirinha sabe que show lendário foi esse em Brasília. Comentado, aumentado e inventado por muitos, mas visto mesmo só por uns no máximo 250 espectadores por noite e sentados, acreditem, nada de roda de pogo por ali. A banda acabara de lançar o seu primeiro disco, Legião Urbana, que ainda engatinhava nas rádios naquele Verão em que todas as atenções estavam viradas para o primeiro Rock in Rio. O festival aconteceu em janeiro, dez dias depois do lançamento do álbum e a imprensa não tinha neurônios suficientes para mais que um grande acontecimento por vez. Salvo honrosas exceções, a maioria das rádios não haviam decifrado ainda o que era aquele OVNI desgovernado vindo de Brasília. Brasília? Rock? Lá só tem milico e político! Mas seria apenas uma questão de meses e a Legião iria reenquadrar a cidade, jogando no ventilador novos adjetivos até então nunca usados para definir Brasília no cenário nacional. E antes do fim do ano eles atropelariam os jabás, escalando até o topo as paradas de sucessos, não ficaria pedra sobre pedra. Mas naquela noite era apenas um show já agendado, um projeto de bolso da Funarte, o Verão 85. O palco foi dividido com Cida Moreira, que encarava uma plateia hostil, numa combinação inusitada, mas era essa a proposta. O público ávido de Legião tratou mal a cantora e pianista paulistana. Foi o que bastou para Renato adentrar e usar aquilo que seria muitas vezes a sua imagem de marca, o pagadão na geral. Depois, e já com todo mundo caladinho, Renato brilhou cantando com Cida, "Summertime". Esse é provavelmente o primeiro show gravado da Legião Urbana, desafio os historiadores a encontrarem em suas caixas de sapatos imagens da banda em palco de antes desse Março de 85. Talvez só as do Circo Voador, mas não tem o áudio original, então não conta. Portanto essa é de longe, literalmente lá de bem longe, o registro mais antigo deles. Um clássico sem dúvidas e em noite de estreia. E se não está perfeito é muito por inabilidade nossa, minha e de Helena Vilar de Lemos. Eu com 20 e ela com 19 anos pegando pela primeira vez uma câmera de vídeo na vida, no caso uma VHS. Podia até dar uma floreada por aqui, jogar um lustro no texto e a culpa na escola Dogma, mas esse referido manifesto só seria lançado exatos dez anos depois da nossa gravação. Então não há desculpas, as falhas são da nossa inexperiência mesmo. Peço por isso paciência, pois as coisas demoram um pouco a acontecer no vídeo. Nem sabíamos ou não víamos o que enquadrar, a zoom ia e voltava, mas tem muita coisa boa, garanto que vai valer cada minuto e depois de Será, na medida do possível, melhora. As imagens VHS foram restauradas na Califórnia, pasmem, verdadeiro milagre da tecnologia. Tudo graças a Helena e seus contatos profissionais. Quanto ao áudio, apesar das tentativas para melhorar, que foram várias, preferimos manter o original. Quem é do ramo sabe que a maioria dos materiais analógicos na digitalização, são como um cobertor curto. Quando se cobre de um lado, descobre-se do outro, algo sempre se perde. A diferença do som trabalhado, descaracterizava em muito o original da banda. Optamos então por manter o mais fiel possível e usar diretamente o da fita VHS, ou seja, de primeira água. Primeira água tal como nós, novinhos que amávamos a Legião Urbana e particularmente tudo o que Renato escrevia. Amor esse que pode ser ouvido nos intervalos das músicas quando sobressaem nossas vozes extasiadas. Portanto é devido a esse momento nas nossas vidas e a esse amor; que hoje vocês fãs de verdade vão poder curtir esse documento histórico da Legião Urbana. Não temos Renato cantando “Summertime” com a Cida. E o que temos? O som e a fúria. Não basta? Uma Legião no auge, Renato exalando energia, suando felicidade que até transpira pela tela. Repararem na cara de satisfação, qualquer um notará como ele estava absolutamente realizado da vida em cima daquele palco. Ali estava um vencedor recolhendo os frutos da confiança e determinação de quem sempre acreditou no próprio talento, mesmo e apesar do desdém de muitos, e que naquela noite triunfava, com Helena e eu literalmente na fila do gargarejo desde sempre. O sucesso da Legião Urbana como banda e de Renato Russo como criador, tinha um sabor doce para nós que muito antes de o ver, o enxergamos. Confiram e de preferência com fones. Renato Martins de Oliveira (Zé)