O HOMEM QUE SABIA JAVANÊS, LIMA BARRETO - Nocautes Literários

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Ler Antes de Morrer

Ler Antes de Morrer

Күн бұрын

Пікірлер: 238
@felipeee228
@felipeee228 3 жыл бұрын
Isa! Sei que às vezes os Nocautes não dão tanta audiência, mas eu adoro 😍! Pode sempre com a minha audiência, adoro os Isa-Casts
@LerAntesdeMorrer
@LerAntesdeMorrer 3 жыл бұрын
É por isso que é importante compartilhar o vídeo para os amigos, para reforçar a audiência! :)
@felipeee228
@felipeee228 3 жыл бұрын
@@LerAntesdeMorrer aah!, isso eu faço sempre 😍 panfleto seu canal sempre que posso, o mais perfeito do yt ❤!
@catiuciajetto9883
@catiuciajetto9883 3 жыл бұрын
O Homem que Sabia Javanês, de Lima Barreto Em uma confeitaria, certa vez, ao meu amigo Castro, contava eu as partidas que havia pregado às convicções e às respeitabilidades, para poder viver. Houve mesmo, uma dada ocasião, quando estive em Manaus, em que fui obrigado a esconder a minha qualidade de bacharel, para mais confiança obter dos clientes, que afluíam ao meu escritório de feiticeiro e adivinho. Contava eu isso. O meu amigo ouvia-me calado, embevecido, gostando daquele meu Gil Blas vivido, até que, em uma pausa da conversa, ao esgotarmos os copos, observou a esmo: - Tens levado uma vida bem engraçada, Castelo ! - Só assim se pode viver... Isto de uma ocupação única: sair de casa a certas horas, voltar a outras, aborrece, não achas? Não sei como me tenho agüentado lá, no consulado ! - Cansa-se; mas, não é disso que me admiro. O que me admira, é que tenhas corrido tantas aventuras aqui, neste Brasil imbecil e burocrático. - Qual! Aqui mesmo, meu caro Castro, se podem arranjar belas páginas de vida. Imagina tu que eu já fui professor de javanês! - Quando? Aqui, depois que voltaste do consulado? - Não; antes. E, por sinal, fui nomeado cônsul por isso. - Conta lá como foi. Bebes mais cerveja? - Bebo. Mandamos buscar mais outra garrafa, enchemos os copos, e continuei: - Eu tinha chegado havia pouco ao Rio estava literalmente na miséria. Vivia fugido de casa de pensão em casa de pensão, sem saber onde e como ganhar dinheiro, quando li no Jornal do Comércio o anuncio seguinte: "Precisa-se de um professor de língua javanesa. Cartas, etc." Ora, disse cá comigo, está ali uma colocação que não terá muitos concorrentes; se eu capiscasse quatro palavras, ia apresentar-me. Saí do café e andei pelas ruas, sempre a imaginar-me professor de javanês, ganhando dinheiro, andando de bonde e sem encontros desagradáveis com os "cadáveres". Insensivelmente dirigi-me à Biblioteca Nacional. Não sabia bem que livro iria pedir; mas, entrei, entreguei o chapéu ao porteiro, recebi a senha e subi. Na escada, acudiu-me pedir a Grande Encyclopédie, letra J, a fim de consultar o artigo relativo a Java e a língua javanesa. Dito e feito. Fiquei sabendo, ao fim de alguns minutos, que Java era uma grande ilha do arquipélago de Sonda, colônia holandesa, e o javanês, língua aglutinante do grupo maleo-polinésico, possuía uma literatura digna de nota e escrita em caracteres derivados do velho alfabeto hindu. A Encyclopédie dava-me indicação de trabalhos sobre a tal língua malaia e não tive dúvidas em consultar um deles. Copiei o alfabeto, a sua pronunciação figurada e saí. Andei pelas ruas, perambulando e mastigando letras. Na minha cabeça dançavam hieróglifos; de quando em quando consultava as minhas notas; entrava nos jardins e escrevia estes calungas na areia para guardá-los bem na memória e habituar a mão a escrevê-los. À noite, quando pude entrar em casa sem ser visto, para evitar indiscretas perguntas do encarregado, ainda continuei no quarto a engolir o meu "a-b-c" malaio, e, com tanto afinco levei o propósito que, de manhã, o sabia perfeitamente. Convenci-me que aquela era a língua mais fácil do mundo e saí; mas não tão cedo que não me encontrasse com o encarregado dos aluguéis dos cômodos: - Senhor Castelo, quando salda a sua conta? Respondi-lhe então eu, com a mais encantadora esperança: - Breve... Espere um pouco... Tenha paciência... Vou ser nomeado professor de javanês, e... Por aí o homem interrompeu-me: - Que diabo vem a ser isso, Senhor Castelo? Gostei da diversão e ataquei o patriotismo do homem: - É uma língua que se fala lá pelas bandas do Timor. Sabe onde é? Oh! alma ingênua! O homem esqueceu-se da minha dívida e disse-me com aquele falar forte dos portugueses: - Eu cá por mim, não sei bem; mas ouvi dizer que são umas terras que temos lá para os lados de Macau. E o senhor sabe isso, Senhor Castelo? Animado com esta saída feliz que me deu o javanês, voltei a procurar o anúncio. Lá estava ele. Resolvi animosamente propor-me ao professorado do idioma oceânico. Redigi a resposta, passei pelo Jornal e lá deixei a carta. Em seguida, voltei à biblioteca e continuei os meus estudos de javanês. Não fiz grandes progressos nesse dia, não sei se por julgar o alfabeto javanês o único saber necessário a um professor de língua malaia ou se por ter me empenhado mais na bibliografia e história literária do idioma que ia ensinar. Ao cabo de dois dias, recebia eu uma carta para ir falar ao doutor Manuel Feliciano Soares Albernaz, Barão de Jacuecanga, à Rua Conde de Bonfim, não me recordo bem que numero. E preciso não te esqueceres que entrementes continuei estudando o meu malaio, isto é, o tal javanês. Além do alfabeto, fiquei sabendo o nome de alguns autores, também perguntar e responder "como está o senhor?" - e duas ou três regras de gramática, lastrado todo esse saber com vinte palavras do léxico. Não imaginas as grandes dificuldades com que lutei, para arranjar os quatrocentos réis da viagem! É mais fácil - podes ficar certo - aprender o javanês... Fui a pé. Cheguei suadíssimo; e, Com maternal carinho, as anosas mangueiras, que se perfilavam em alameda diante da casa do titular, me receberam, me acolheram e me reconfortaram. Em toda a minha vida, foi o único momento em que cheguei a sentir a simpatia da natureza...
@felipe4567
@felipe4567 3 ай бұрын
Cheguei com alguns anos de atraso, mas a tempo de manifestar minha gratidão e admiração pelo trabalho fantástico da Isa, principalmente na narração dos contos e livros que deixam qualquer leitura muito mais gostosa e interessante. Parabéns Isa!!!
@lia.csm22
@lia.csm22 3 жыл бұрын
Esse conto é tão Brasil 😪 É incrível.
@GabrielSoares-lo5zt
@GabrielSoares-lo5zt 3 жыл бұрын
Caramba, eu li esse conto semana passada e fiquei imaginando que miséria o nosso amigo Castelo não faria tendo à sua inteira disposição um wi-fi e um smartphone kkkkkk
@silzetheodorodacosta9193
@silzetheodorodacosta9193 3 жыл бұрын
Texto mais que original. Temos muitos professores de javanês e também muitos especialistas em tudo hoje em dia. Socorro!!
@catiuciajetto9883
@catiuciajetto9883 3 жыл бұрын
Parte 2 Era uma casa enorme que parecia estar deserta; estava mal tratada, mas não sei porque me veio pensar que nesse mau tratamento havia mais desleixo e cansaço de viver que mesmo pobreza. Devia haver anos que não era pintada. As paredes descascavam e os beirais do telhado, daquelas telhas vidradas de outros tempos, estavam desguarnecidos aqui e ali, como dentaduras decadentes ou mal cuidadas. Olhei um pouco o jardim e vi a pujança vingativa com que a tiririca e o carrapicho tinham expulsado os tinhorões e as begônias. Os crótons continuavam, porém, a viver com a sua folhagem de cores mortiças. Bati. Custaram-me a abrir. Veio, por fim, um antigo preto africano, cujas barbas e cabelo de algodão davam à sua fisionomia uma aguda impressão de velhice, doçura e sofrimento. Na sala, havia uma galeria de retratos: arrogantes senhores de barba em colar se perfilavam enquadrados em imensas molduras douradas, e doces perfis de senhoras, em bandós, com grandes leques, pareciam querer subir aos ares, enfunadas pelos redondos vestidos à balão; mas, daquelas velhas coisas, sobre as quais a poeira punha mais antiguidade e respeito, a que gostei mais de ver foi um belo jarrão de porcelana da China ou da Índia, como se diz. Aquela pureza da louça, a sua fragilidade, a ingenuidade do desenho e aquele seu fosco brilho de luar, diziam-me a mim que aquele objeto tinha sido feito por mãos de criança, a sonhar, para encanto dos olhos fatigados dos velhos desiludidos... Esperei um instante o dono da casa. Tardou um pouco. Um tanto trôpego, com o lenço de alcobaça na mão, tomando veneravelmente o simonte de antanho, foi cheio de respeito que o vi chegar. Tive vontade de ir-me embora. Mesmo se não fosse ele o discípulo, era sempre um crime mistificar aquele ancião, cuja velhice trazia à tona do meu pensamento alguma coisa de augusto, de sagrado. Hesitei, mas fiquei. - Eu sou, avancei, o professor de javanês, que o senhor disse precisar. - Sente-se, respondeu-me o velho. O senhor é daqui, do Rio? - Não, sou de Canavieiras. - Como? fez ele. Fale um pouco alto, que sou surdo, - Sou de Canavieiras, na Bahia, insisti eu. - Onde fez os seus estudos? - Em São Salvador. - Em onde aprendeu o javanês? indagou ele, com aquela teimosia peculiar aos velhos.
@joselioalvinegro
@joselioalvinegro 3 жыл бұрын
Ô loko bicho! Kkkkkkkkk
@EmersonSilva-oo1np
@EmersonSilva-oo1np 2 жыл бұрын
Esta obra é o retrato de que a cultura no Brasil é lastreada pela aparência,conveniência e hipocrisia.
@catiuciajetto9883
@catiuciajetto9883 3 жыл бұрын
Parte 4 do conto Ficava extático, como se estivesse a ouvir palavras de um anjo. E eu crescia aos seus olhos ! Fez-me morar em sua casa, enchia-me de presentes, aumentava-me o ordenado. Passava, enfim, uma vida regalada. Contribuiu muito para isso o fato de vir ele a receber uma herança de um seu parente esquecido que vivia em Portugal. O bom velho atribuiu a cousa ao meu javanês; e eu estive quase a crê-lo também. Fui perdendo os remorsos; mas, em todo o caso, sempre tive medo que me aparecesse pela frente alguém que soubesse o tal patuá malaio. E esse meu temor foi grande, quando o doce barão me mandou com uma carta ao Visconde de Caruru, para que me fizesse entrar na diplomacia. Fiz-lhe todas as objeções: a minha fealdade, a falta de elegância, o meu aspecto tagalo. - "Qual! retrucava ele. Vá, menino; você sabe javanês!" Fui. Mandou-me o visconde para a Secretaria dos Estrangeiros com diversas recomendações. Foi um sucesso. O diretor chamou os chefes de seção: "Vejam só, um homem que sabe javanês - que portento!" Os chefes de seção levaram-me aos oficiais e amanuenses e houve um destes que me olhou mais com ódio do que com inveja ou admiração. E todos diziam: "Então sabe javanês? É difícil? Não há quem o saiba aqui!" O tal amanuense, que me olhou com ódio, acudiu então: "É verdade, mas eu sei canaque. O senhor sabe?" Disse-lhe que não e fui à presença do ministro. A alta autoridade levantou-se, pôs as mãos às cadeiras, concertou o pincenez no nariz e perguntou: "Então, sabe javanês?" Respondi-lhe que sim; e, à sua pergunta onde o tinha aprendido, contei-lhe a história do tal pai javanês. "Bem, disse-me o ministro, o senhor não deve ir para a diplomacia; o seu físico não se presta... O bom seria um consulado na Ásia ou Oceania. Por ora, não há vaga, mas vou fazer uma reforma e o senhor entrará. De hoje em diante, porém, fica adido ao meu ministério e quero que, para o ano, parta para Bale, onde vai representar o Brasil no Congresso de Lingüística. Estude, leia o Hovelacque, o Max Müller, e outros!" Imagina tu que eu até aí nada sabia de javanês, mas estava empregado e iria representar o Brasil em um congresso de sábios. O velho barão veio a morrer, passou o livro ao genro para que o fizesse chegar ao neto, quando tivesse a idade conveniente e fez-me uma deixa no testamento. Pus-me com afã no estudo das línguas maleo-polinésicas; mas não havia meio! Bem jantado, bem vestido, bem dormido, não tinha energia necessária para fazer entrar na cachola aquelas coisas esquisitas. Comprei livros, assinei revistas: Revue Anthropologique et Linguistique, Proceedings of the English-Oceanic Association, Archivo Glottologico Italiano, o diabo, mas nada! E a minha fama crescia. Na rua, os informados apontavam-me, dizendo aos outros: "Lá vai o sujeito que sabe javanês." Nas livrarias, os gramáticos consultavam-me sobre a colocação dos pronomes no tal jargão das ilhas de Sonda. Recebia cartas dos eruditos do interior, os jornais citavam o meu saber e recusei aceitar uma turma de alunos sequiosos de entenderem o tal javanês. A convite da redação, escrevi, no Jornal do Comércio um artigo de quatro colunas sobre a literatura javanesa antiga e moderna... - Como, se tu nada sabias? interrompeu-me o atento Castro. - Muito simplesmente: primeiramente, descrevi a ilha de Java, com o auxílio de dicionários e umas poucas de geografias, e depois citei a mais não poder. - E nunca duvidaram? perguntou-me ainda o meu amigo. - Nunca. Isto é, uma vez quase fico perdido. A polícia prendeu um sujeito, um marujo, um tipo bronzeado que só falava uma língua esquisita. Chamaram diversos intérpretes, ninguém o entendia. Fui também chamado, com todos os respeitos que a minha sabedoria merecia, naturalmente. Demorei-me em ir, mas fui afinal. O homem já estava solto, graças à intervenção do cônsul holandês, a quem ele se fez compreender com meia dúzia de palavras holandesas. E o tal marujo era javanês - uf! Chegou, enfim, a época do congresso, e lá fui para a Europa. Que delícia! Assisti à inauguração e às sessões preparatórias. Inscreveram-me na seção do tupiguarani e eu abalei para Paris. Antes, porém, fiz publicar no Mensageiro de Bale o meu retrato, notas biográficas e bibliográficas. Quando voltei, o presidente pediu-me desculpas por me ter dado aquela seção; não conhecia os meus trabalhos e julgara que, por ser eu americano brasileiro, me estava naturalmente indicada a seção do tupi- guarani. Aceitei as explicações e até hoje ainda não pude escrever as minhas obras sobre o javanês, para lhe mandar, conforme prometi. Acabado o congresso, fiz publicar extratos do artigo do Mensageiro de Bale, em Berlim, em Turim e Paris, onde os leitores de minhas obras me ofereceram um banquete, presidido pelo Senador Gorot. Custou-me toda essa brincadeira, inclusive o banquete que me foi oferecido, cerca de dez mil francos, quase toda a herança do crédulo e bom Barão de Jacuecanga. Não perdi meu tempo nem meu dinheiro. Passei a ser uma glória nacional e, ao saltar no cais Pharoux, recebi uma ovação de todas as classes sociais e o presidente da república, dias depois, convidava-me para almoçar em sua companhia. Dentro de seis meses fui despachado cônsul em Havana, onde estive seis anos e para onde voltarei, a fim de aperfeiçoar os meus estudos das línguas da Malaia, Melanésia e Polinésia. - É fantástico, observou Castro, agarrando o copo de cerveja. - Olha: se não fosse estar contente, sabes que ia ser ? - Que? - Bacteriologista eminente. Vamos? - Vamos.
@babyaa75
@babyaa75 3 жыл бұрын
Obrigada por isso 🙏🏻
@carollemos8952
@carollemos8952 3 жыл бұрын
obrigada! ajudou muito
@catiuciajetto9883
@catiuciajetto9883 3 жыл бұрын
Parte 3 Não contava com essa pergunta, mas imediatamente arquitetei uma mentira. Contei-lhe que meu pai era javanês. Tripulante de um navio mercante, viera ter à Bahia, estabelecera-se nas proximidades de Canavieiras como pescador, casara, prosperara e fora com ele que aprendi javanês. - E ele acreditou? E o físico? perguntou meu amigo, que até então me ouvira calado. - Não sou, objetei, lá muito diferente de um javanês. Estes meus cabelos corridos, duros e grossos e a minha pele basané podem dar-me muito bem o aspecto de um mestiço de malaio...Tu sabes bem que, entre nós, há de tudo: índios, malaios, taitianos, malgaches, guanches, até godos. É uma comparsaria de raças e tipos de fazer inveja ao mundo inteiro. - Bem, fez o meu amigo, continua. - O velho, emendei eu, ouviu-me atentamente, considerou demoradamente o meu físico, pareceu que me julgava de fato filho de malaio e perguntou-me com doçura: - Então está disposto a ensinar-me javanês? - A resposta saiu-me sem querer: - Pois não. - O senhor há de ficar admirado, aduziu o Barão de Jacuecanga, que eu, nesta idade, ainda queira aprender qualquer coisa, mas... - Não tenho que admirar. Têm-se visto exemplos e exemplos muito fecundos... ? - O que eu quero, meu caro senhor.... - Castelo, adiantei eu. - O que eu quero, meu caro Senhor Castelo, é cumprir um juramento de família. Não sei se o senhor sabe que eu sou neto do Conselheiro Albernaz, aquele que acompanhou Pedro I, quando abdicou. Voltando de Londres, trouxe para aqui um livro em língua esquisita, a que tinha grande estimação. Fora um hindu ou siamês que lho dera, em Londres, em agradecimento a não sei que serviço prestado por meu avô. Ao morrer meu avô, chamou meu pai e lhe disse: "Filho, tenho este livro aqui, escrito em javanês. Disse-me quem mo deu que ele evita desgraças e traz felicidades para quem o tem. Eu não sei nada ao certo. Em todo o caso, guarda-o; mas, se queres que o fado que me deitou o sábio oriental se cumpra, faze com que teu filho o entenda, para que sempre a nossa raça seja feliz." Meu pai, continuou o velho barão, não acreditou muito na história; contudo, guardou o livro. Às portas da morte, ele mo deu e disse-me o que prometera ao pai. Em começo, pouco caso fiz da história do livro. Deitei-o a um canto e fabriquei minha vida. Cheguei até a esquecer-me dele; mas, de uns tempos a esta parte, tenho passado por tanto desgosto, tantas desgraças têm caído sobre a minha velhice que me lembrei do talismã da família. Tenho que o ler, que o compreender, se não quero que os meus últimos dias anunciem o desastre da minha posteridade; e, para entendê-lo, é claro, que preciso entender o javanês. Eis aí. Calou-se e notei que os olhos do velho se tinham orvalhado. Enxugou discretamente os olhos e perguntou-me se queria ver o tal livro. Respondi-lhe que sim. Chamou o criado, deu-lhe as instruções e explicou-me que perdera todos os filhos, sobrinhos, só lhe restando uma filha casada, cuja prole, porém, estava reduzida a um filho, débil de corpo e de saúde frágil e oscilante. Veio o livro. Era um velho calhamaço, um in-quarto antigo, encadernado em couro, impresso em grandes letras, em um papel amarelado e grosso. Faltava a folha do rosto e por isso não se podia ler a data da impressão. Tinha ainda umas páginas de prefácio, escritas em inglês, onde li que se tratava das histórias do príncipe Kulanga, escritor javanês de muito mérito. Logo informei disso o velho barão que, não percebendo que eu tinha chegado aí pelo inglês, ficou tendo em alta consideração o meu saber malaio. Estive ainda folheando o cartapácio, à laia de quem sabe magistralmente aquela espécie de vasconço, até que afinal contratamos as condições de preço e de hora, comprometendo-me a fazer com que ele lesse o tal alfarrábio antes de um ano. Dentro em pouco, dava a minha primeira lição, mas o velho não foi tão diligente quanto eu. Não conseguia aprender a distinguir e a escrever nem sequer quatro letras. Enfim, com metade do alfabeto levamos um mês e o Senhor Barão de Jacuecanga não ficou lá muito senhor da matéria: aprendia e desaprendia. A filha e o genro (penso que até aí nada sabiam da história do livro) vieram a ter notícias do estudo do velho; não se incomodaram. Acharam graça e julgaram a coisa boa para distraí-lo. Mas com o que tu vais ficar assombrado, meu caro Castro, é com a admiração que o genro ficou tendo pelo professor de javanês. Que coisa Única! Ele não se cansava de repetir: “É um assombro! Tão moço! Se eu soubesse isso, ah! onde estava !” O marido de Dona Maria da Glória (assim se chamava a filha do barão), era desembargador, homem relacionado e poderoso; mas não se pejava em mostrar diante de todo o mundo a sua admiração pelo meu javanês. Por outro lado, o barão estava contentíssimo. Ao fim de dois meses, desistira da aprendizagem e pedira-me que lhe traduzisse, um dia sim outro não, um trecho do livro encantado. Bastava entendê-lo, disse-me ele; nada se opunha que outrem o traduzisse e ele ouvisse. Assim evitava a fadiga do estudo e cumpria o encargo. Sabes bem que até hoje nada sei de javanês, mas compus umas histórias bem tolas e impingi-as ao velhote como sendo do crônicon. Como ele ouvia aquelas bobagens !...
@marcosfarias6006
@marcosfarias6006 3 жыл бұрын
Grande Lima Barreto, cheio de ironias para com a sociedade brasileira de seu tempo, que continua mais ou menos igual até hoje. Bela leitura, cheia de expressividade e verve, isa!!
@alinecassiasilva3024
@alinecassiasilva3024 8 ай бұрын
Assistindo todos os vídeos do canal! Isa, você é maravilhosa. Gostei demais de suas interpretações na leituras. 🎉 Parabéns 👏!
@ricardosantana6176
@ricardosantana6176 3 жыл бұрын
Conto incrível de Lima Barreto... Como sempre um crítico mordaz da sociedade brasileira. Trabalho este conto com meus alunos do 3ano do Ensino Médio... Parabéns pela leitura.
@samanthamoreira6157
@samanthamoreira6157 3 жыл бұрын
Isa, faz leitura conjunta de Triste Fim de Policarpo Quaresma 🤗 Queria muita essa leitura com vc como mediadora. ❤️🤗😚
@fabiosilvaal
@fabiosilvaal 3 жыл бұрын
Eu apoio
@tanialima2101
@tanialima2101 3 жыл бұрын
Eu amaria
@biaferreira4927
@biaferreira4927 3 жыл бұрын
Simplesmente perfeito,eu ameii
@eletronica_do_airton
@eletronica_do_airton 3 жыл бұрын
Meu autor predileto. Nova Californiana também e ótimo e se le em uma hora
@animahabitus9099
@animahabitus9099 3 жыл бұрын
Conhecimento: quanto mais se tem, mais se quer, mas só se torna útil ao compartilhar! parabens pelo video!
@rosilav
@rosilav 3 жыл бұрын
Ouço os Nocautes da Isa como podcast. Estou cuidando de vários assuntos no PC com a Isa em segundo plano.
@sonhosfritos
@sonhosfritos 3 жыл бұрын
Caramba, Isa! Voltei no tempo agora, lembro de meu pai falando sobre esse conto desde que me entendo por gente por conta do protagonista ser natural de Canavieiras, assim como minha avó. Com o passar do tempo acabei me esquecendo de tirar um tempinho pra ler... os nocautes literários são sempre incríveis, mas esse em especial me deixou muito feliz, obrigada ♥️
@MsDeniMaia
@MsDeniMaia 3 жыл бұрын
Isa...senti muita falta deste quadro, amo a leitura de contos
@valerianegromonte5728
@valerianegromonte5728 3 жыл бұрын
Bom dia Isa! Pernambuco esperando Nocautes Literário novamente 💗
@claudioaugustomartins8549
@claudioaugustomartins8549 3 жыл бұрын
Eu amo ler esse Conto do Autor Lima Barretto bom video
@lizzborges3203
@lizzborges3203 3 жыл бұрын
Lima Barreto é sensacional 👏. Adoro esse conto - acho que a Globo fez uma adaptação para a televisão há alguns anos -, mas a minha obra favorita é "Os Bruzundangas". Impossível ler esse livro e não ver o quanto simplesmente não arredamos os pés do século 19. Ele era certeiro demais!!!
@RafaumQueiroz
@RafaumQueiroz 3 жыл бұрын
A troca de ângulo nos diálogos merece um prêmio.
@danieltolotojesusvive4843
@danieltolotojesusvive4843 3 жыл бұрын
Nossa lavei toda a louça viajando nesse conto, mto bem interpretado me senti no bar ouvindo nosso herói que sabia falar javanês 👏👏👏👏👏
@joaopedrocamarapereira8478
@joaopedrocamarapereira8478 3 жыл бұрын
Não sei se a Isa grava com diferentes câmeras, mas a gravação desse vídeo é bem melhor. Não fica aquela sensação de blur...
@catiuciajetto9883
@catiuciajetto9883 3 жыл бұрын
Ai ai, que saudade arretada de levar um belo soco literário, e ser nocauteada com esses contos incríveis!
@cristianebarbosa5894
@cristianebarbosa5894 3 жыл бұрын
Obrigada. Li e ouvi o conto..kkkk
@catiuciajetto9883
@catiuciajetto9883 3 жыл бұрын
@@cristianebarbosa5894 De nada, podendo ajudar, tamo aí
@juarezbento8514
@juarezbento8514 3 жыл бұрын
Obrigado menina! Você lê muito bem. Eu já conhecia o conto mas com sua voz eu não consegui parar de ouvir. Sou inscrito e gostaria de continuar ouvindo outras hostórias. Valeu!
@raquelsmynniuk2847
@raquelsmynniuk2847 3 жыл бұрын
Que delícia ouvir sua leitura de um conto tão divertido e com uma crítica tão refinada! A linguagem nem atrapalha de tão incrível ❤️
@margarethnancy3456
@margarethnancy3456 Жыл бұрын
Gratidão🌹
@merciareis7608
@merciareis7608 3 жыл бұрын
Muito divertido esse conto. Leitura impecável!
@tatianesegura1847
@tatianesegura1847 3 жыл бұрын
Amo Lima Barreto, me identifico muito com ele, escritor incisivo com relação à problemas sociais brasileiros. Quando li Triste fim de Policarpo Quaresma chorei de tristeza.
@jordanamaciel2499
@jordanamaciel2499 3 жыл бұрын
Sincronicidade incrível, comecei a ler Lima Barreto semana passada e tô adorando ❤
@Fernanda-wn4rm
@Fernanda-wn4rm 3 жыл бұрын
A biografia dele assim como sua obra e incrível!
@rosanachagas3574
@rosanachagas3574 3 жыл бұрын
Adoro os nocautes!!! Faça sempre por favor!!🙏💋
@almecidescarvalhodasilva6738
@almecidescarvalhodasilva6738 3 жыл бұрын
Virei colaborador financeiro seu .... vc me inspirou a ler mais ainda... e agora estou incentivando meus alunos e ex alunos compartilhando seus vídeos.... parabéns, Isa
@weldertsantiago7732
@weldertsantiago7732 3 жыл бұрын
ESSE CONTO É MARAVILHOSO! ❤
@victormoreno1368
@victormoreno1368 3 жыл бұрын
Ainda existem muitos que são: "Fluentes em Javanês". E são encontrados no mais alto e até no mais baixo escalão. Bom dia
@tanialima2101
@tanialima2101 3 жыл бұрын
Achei muito interessante essa história!. Isa, vc é mto incrível e uma profissional Maravilhosa. Leia por favor: A dama das Camelias. Bjos 😘
@ex7166
@ex7166 Жыл бұрын
Conheci o canal hoje haha. Que moça linda, parabéns pelo conteúdo 😊
@brunaaraujo4983
@brunaaraujo4983 3 жыл бұрын
Que saudade desse quadro, Isa!! Adorei este conto
@valeriafelix2439
@valeriafelix2439 3 жыл бұрын
Adoro o quadro literário, a voz da Isa é maravilhosa. Gostaria que houvesse leitura de mais contos, quem sabe um por semana? 😍 Gostaria de dar uma dica: que os comentários fossem dado ao final e que primeiramente o conto fosse lido de uma só vez.
@Fernanda-wn4rm
@Fernanda-wn4rm 3 жыл бұрын
Amo Lima Barreto!
@alexandrac.21
@alexandrac.21 3 жыл бұрын
Me encantoooo, por favor Isa, sigue haciendo más de esto🙏💛
@victoryafirminna5253
@victoryafirminna5253 3 жыл бұрын
Por favor Isa faz mais nocautes literários aqui e nas plataformas de áudio, sem dúvida é meu quadro favorito!
@marialeite8466
@marialeite8466 3 жыл бұрын
Isa, leia "Zaíta esqueceu de guardar os brinquedos" de Conceição Evaristo. Um verdadeiro NOCAUTE literário. Está no livro Olhos d'água.
@TheAlrmota
@TheAlrmota Жыл бұрын
Esse livro inteiro é um nocaute... li aos poucos, sentindo o quanto consegui a cada dia.... eventualmente volto a algum conto e sempre me afeta profundamente 😪✊🏾
@thiagorodrigues764
@thiagorodrigues764 Жыл бұрын
Leitura fantástica, comecei a ler a pouco e hoje participarei de uma noite do livro que trás como tema o livro do vídeo, decidi pesquisar antes pois ainda não o conhecia e gostei muito de acompanhar essa leitura.
@elisabeteantonietto5935
@elisabeteantonietto5935 3 жыл бұрын
Um alento para o coração contar com a sua companhia nestes tempos cabulosos cabulosos!
@joaofelipe4597
@joaofelipe4597 3 жыл бұрын
O melhor conto do magistral Lima Barreto!! Um dos três maiores escritores brasileiros pra mim!
@dionemuniz6401
@dionemuniz6401 3 жыл бұрын
👏👏👏 Grata por me relembrar as leituras de contos que minha mãe fazia em casa 😍😍😍
@mayracarvalho6455
@mayracarvalho6455 3 жыл бұрын
Adorei! É um dos meus quadros favoritos do bookstagram 😍
@djonessilva505
@djonessilva505 3 жыл бұрын
Oi Isa! Por favor, não pare com este quadro. Hoje, dia 31 de de março, acordei de madrugada e esperei amanhecer assistindo o seu vídeo. Foi muito bom acordar assim haha. Li esse conto anos atrás. É tão bom reler/ouvir narrativas que marcaram nossa vida.
@allanfarias5351
@allanfarias5351 3 жыл бұрын
Lima Barreto é tão maravilhoso....
@alinemarchiori2544
@alinemarchiori2544 3 жыл бұрын
Sensacional!!! Tornou minha tarde divertida!!!! Que conto delicioso!!!! E com a sua interpretação, ficou extremamente prazeroso de se ouvir!!! Obrigada Isa!!!!
@jokafofinha1867
@jokafofinha1867 3 жыл бұрын
Do Lima Barreto li Os Bruzundangas - não recomendo pra leitores iniciantes como eu
@paulozan
@paulozan 3 жыл бұрын
É um dos melhores contos que já li!
@ripa442
@ripa442 7 ай бұрын
Ninguém perguntou😂😮
@lucasjosesoares
@lucasjosesoares 2 жыл бұрын
esse conto é incrivelmente foda
@marimari.maciel
@marimari.maciel 3 жыл бұрын
Isa que tal LC de O nome da rosa!? 🌹🌹🌹🌹
@MsSu87
@MsSu87 3 жыл бұрын
Mds! Falei desse conto esses no seu insta. Adorei!!
@carolinetomazelli5281
@carolinetomazelli5281 3 жыл бұрын
Ahh, Isa! Adoro quando vc posta os nocautes. Não pare nunca 🥰 leia Lygia quando der
@vivianedijair7967
@vivianedijair7967 3 жыл бұрын
Lima Barreto! Maravilhoso! Sugiro a leitura do conto" Manuel de Oliveira ", também de Lima Barreto. É muito bonito.
@luisagontijo739
@luisagontijo739 3 жыл бұрын
Estou maravilhada !!! SENSACIONAL ... Estou com medo de não fazer mais nada, dá vontade de ficar o dia inteiro ouvindo.
@leticiacantoo
@leticiacantoo 3 жыл бұрын
muito obrigada pelo vídeo, e me incentivar a ler Lima Barreto pela primeira vez. O seu canal me ajudou muito a desmistificar meu preconceito com clássicos e à gostar de todo tipo de literatura. Muito obrigada, continue esse trabalho excepcional..
@lucianaalves5635
@lucianaalves5635 3 жыл бұрын
Oba! Muito bom! Baixei aqui e fiquei lendo contigo.
@viniciusdamasceno8676
@viniciusdamasceno8676 2 жыл бұрын
Incrivell!!
@elisabeteantonietto5935
@elisabeteantonietto5935 3 жыл бұрын
Conto atualissimo! Retrata muito bem os dias de hoje. Haja vista os políticos que estão no poder!
@aliine.rosa.
@aliine.rosa. 3 жыл бұрын
Lendo com vc. Obrigada! 🥰
@cnobrelima7747
@cnobrelima7747 2 жыл бұрын
nossa adorei esse quadro! primeira vez no canal, e isso me cativou bastante! Os comentários ms auxiliaram em uma prova sobre o livro. Amei! Tu é esplêndida
@geraldamachado8329
@geraldamachado8329 3 жыл бұрын
já conhecia esse conto, mas igual vc contando ficou maravilhoso. bjs
@leonardocavalcante7106
@leonardocavalcante7106 3 жыл бұрын
Amei a proposta do vídeo :) ótima interpretação do texto....
@josealdevandofiorot2006
@josealdevandofiorot2006 3 жыл бұрын
Infelizmente caso parecida eu vi nos dias de hoje.
@gabrielmonteiro4470
@gabrielmonteiro4470 3 жыл бұрын
Esse conto me fez lembrar do filme "narradores de Javé" que personagem tbm era um picareta desse tipo
@ecapessoa8191
@ecapessoa8191 3 жыл бұрын
Eu queria ter uma Professora de Literatura Linda assim! Bela Isabela!
@aliine.rosa.
@aliine.rosa. 3 жыл бұрын
Isa, faz um vídeo de livros nacionais que vc gosta e indica para lermos em 2022. Sei que vc já tem vaaarios vídeos de indicação de livros massa, mas seria legal um vídeo novo, até para nós refrescar a memória dos livros que Te encantaram. Obrigada!
@annaysepinho8726
@annaysepinho8726 3 жыл бұрын
Eu amo esse quadro! 😍
@cintiaronise2902
@cintiaronise2902 3 жыл бұрын
Amo esses videos de nocautes.....bjus gratidão!!!
@josianakoch8242
@josianakoch8242 3 жыл бұрын
Muito bom! Obrigada 👏👏👏
@babyaa75
@babyaa75 3 жыл бұрын
Obrigada por isso Isa. Não tenho dinheiro para comprar livros. Muito obrigada
@carlosjunior4329
@carlosjunior4329 3 жыл бұрын
Meu Deus! Eu AMO essa menina!
@annaschacht5580
@annaschacht5580 2 жыл бұрын
Uma pena não ter Lima Barreta Imortal da Academia. Escutar a história dele fez recordar-me do poeminha do contra de Quintana, que sofreu de mesmo mal. Isabela, poderia, hora dessas, declamar poesias também em seu canal?
@vilmaguerra9497
@vilmaguerra9497 3 жыл бұрын
Adorei sua forma de contar a história.
@biaferreira4927
@biaferreira4927 3 жыл бұрын
Eu amoooo,li quando era adolescente, apaixonada,já escrevi até algo sobre 😍🙀
@priscilasilverio7846
@priscilasilverio7846 3 жыл бұрын
Isaaa, hahahaha, obrigada por esse conto de ironia e humor fino😹💛 O quadro Nocautes é o melhor, tem muita qualidade na sua narração, por isso apoiamos sempre :)
@kelvinalves5564
@kelvinalves5564 3 жыл бұрын
Isa muito obrigado pela leitura! Eu nunca li Lima Barreto e confesso que tinha um pouco de receio, mas depois desse conto (me diverti horrores) fiquei com muita vontade de ler
@ricardopachecoricardo3671
@ricardopachecoricardo3671 3 жыл бұрын
olá, Isabella! Vi seu vídeo sobre As Inseparáveis de Simone de Beauvoir e a Trilogia Napolitana. Posso dizer que você é uma pessoa quase tão sublime como as Sinfonias 2 e 8 de Mahler.
@ricardopachecoricardo3671
@ricardopachecoricardo3671 3 жыл бұрын
Olá, Bella Isa! De facto uma inigualável interpretação sua, com elaborada mise-en-scéne! Haha... Há outros grandes charlatães clássicos além de Gil Blas: na Baviera são famosas as célebres "As Alegres Travessuras de Till Eulenspiegel", outro grande rufião; e, como outro exemplo, na minha infância lembro que li também com grande divertimento as aventuras de Pedro Malasartes, personagem para lá de malandro tanto da literatura brasileira como da portuguesa (já ouviste falar dele?). Thomas Mann usa muito em seus contos e romances figuras de charlatães e prestidigitadores (Mario, o Mágico, por exemplo): ele chega mesmo a equiparar artistas e escritores a pessoas pouco confiáveis (como os narradores de Poe?) em que não deve acreditar piamente porque apreciam nos iludir; aliás, quando falaste em Javanês (falas?:), consultei na minha memória e lembrei-me que na Montanha Mágica, também de Mann como bem sabes, aparece lá pelo final do imenso e estagnante romance um empresário holandês que tinha plantations de canaviais em Java, coincidentemente um homem que é uma figura bastante burlesca e rufiã. Como último comentário, incrível esse nosso país! Assim tão rico em malandros, impostores e charlatães, como astrólogos, adivinhos e feiticeiros, em profundo desrespeito a Carl Sagan! Aqui vivemos em um Mundo Assombrado por Demônios em que a Ciência é apenas uma tímida vela na escuridão dominante, especialmente nos dias de trevas medievais por que estamos passando (com direito até à Fome e à Peste Negra!). Só o humor nos liberta, portanto! Rir para não chorar, como se diz por aí. Muito obrigado pela sua contribuição alegre, lúdica Professora Lubrano, (juntamente com a grande interpretação com que nos brindaste!). P.S.: não é pince-nez que se falta, tá? Se pronuncia pancenê. Não sei francês, mas de tanto ler o termo em romances antigos, acabei aprendendo a pronúncia correta. Une baiser! Au revoir!
@revisapixel
@revisapixel 3 жыл бұрын
Adorei a leitura e comentários!
@elisabeteantonietto5935
@elisabeteantonietto5935 3 жыл бұрын
ADORÁVEL a sua interpretação! 👏👏👏👏👏
@izarangel7478
@izarangel7478 3 жыл бұрын
Amei a leitura. Parabéns 👏👏👏
@evandilsoncostasilva
@evandilsoncostasilva 3 жыл бұрын
ESSE É MARAVILHOSO, ISA. Obrigado.
@marlilima2295
@marlilima2295 3 жыл бұрын
Amei, que maravilha fazer janta e ouvir um conto👏👏
@marcocardi
@marcocardi 3 жыл бұрын
Maravilhosos nocautes! Alguns aqui e outros ainda no Spotify são puro deleite. Obrigado!
@fabricioakira8056
@fabricioakira8056 3 жыл бұрын
Nocautes literários são perfeitos! Por favor continue!!
@Wallacegfsilva
@Wallacegfsilva 3 жыл бұрын
A leitura fica ainda melhor com essa análise sensacional. Muito obrigado!!
@snoopadrik
@snoopadrik 3 жыл бұрын
Video maravilhoso! Parabens pelo seu trabalho.
@amandavasconcelos7873
@amandavasconcelos7873 3 жыл бұрын
Perfeita Perfeita Nada mais a dizer....
@christianenazareth5857
@christianenazareth5857 3 жыл бұрын
Conheci o seu canal ontem e já tô viciada! Parabéns, Isa! Você é cativante.
@Elinara1
@Elinara1 3 жыл бұрын
Que delícia de conto! Essas leituras são tão boas! Obrigada
@anaribeiro177
@anaribeiro177 3 жыл бұрын
Maravilhoso!🤎 Estou de olho em um livro de contos dele que sai pela companhia das letras.
@katiuscianogueira8571
@katiuscianogueira8571 3 жыл бұрын
Adoro vir aqui pegar dicas antes de iniciar a leitura 📚♥️
@cristinapini2585
@cristinapini2585 3 жыл бұрын
Delicioso este conto!!!! Obrigada pela leitura!
@patricialima0702
@patricialima0702 3 жыл бұрын
Esse conto é muito bom, divertido! Adoro seus Nocautes, sempre de muita qualidade .👏👏👏👏👏
@vantevante6016
@vantevante6016 3 жыл бұрын
Muito bom ouvir essa história!
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