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1- Se você tem menos de 30 anos, provavelmente não se lembre das plaquinhas encontradas em lojas comerciais “sorria, você está sendo filmado!”. Mas deixa eu te dizer, quando essas plaquinhas começaram a aparecer nos diferentes estabelecimentos comerciais, minha geração se irritou. A gente se sentia invadido, violentado em nossa privacidade. Como assim, estou sendo filmado? Com autorização de quem? Era isso o que a gente pensava, lá pelos idos dos anos 1990, 2000. E eu cheguei mesmo a sair de algumas lojas, chateado com presença da plaquinha.
2- O tempo passou e as câmeras se tornaram uma estranha familiaridade. Ninguém mais se espanta com elas. Aliás, não é raro que haja a sensação de que precisamos de mais câmeras. Por vezes, a gente cobra mais câmeras nos lugares por onde andamos. Não é só o poder institucional que usa câmeras. Nós mesmos as usamos como parte do nosso dia-a-dia. Seja para uma selfie, seja para registrar um momento tenso, como uma confusão, um assalto, uma violência, qualquer coisa que atente contra a ordem da vida.
3- Parece que estamos num impasse estranho, mas que não é novidade, e que se relaciona com o conhecido binômio “Liberdade X Segurança”. Deseja-se mais vigilância, porque isso pode trazer mais sensação de segurança. Em troca, cede-se a intimidade, a privacidade, uma fatia da liberdade.
4- Essa ideia que compreende vigilância constante como elemento da segurança não é novidade. Michel Foucault, escreveu sobre o pan-optismo. “Pan” de total, de universal; “optico” de visão. O panóptico é esse gesto do poder que tudo vê. Uma visão que alcança tudo e todos. Como você se sente observado o tempo todo, espera-se que você molde seu comportamento à disciplina que a sociedade impõe.
5- Segundo Foucault, foi Jeremy Bentham, lá no tempo do Iluminismo, quem expressou a ideia do panóptico de maneira mais clara, ao imaginar um tipo específico de prisão, cuja arquitetura seria em linhas gerais, uma torre central, rodeada por uma construção em forma de anel. Na torre central, um vigilante, na construção em forma de anel, celas. Então, o poder, representado pelo vigilante, a partir da torre central, poderia observar todas as celas, sem ser observado.
6- Houve um tempo, no entanto, em que o poder desejava ser visto, inclusive do ponto de vista arquitetural. A suntuosidade do Castelo, a grandiosidade da Catedral e a robustez da fortaleza serviam para exibir a presença inconteste do poder. O palácio indicava o poder do rei; a catedral, o poder da Igreja, a fortaleza, o poder dos exércitos. Essa coisa do poder querer observar o tempo todo, nos xeretando com suas câmeras ligadas 24 horas por dia, mas agora sem ser visto, são, portanto, uma novidade. Tudo isso me fez lembrar a recente polêmica em torno do uso das câmeras nos uniformes dos policiais.
7- Aqui fica a impressão de que essa polêmica em torno do uso das câmeras nos uniformes policiais tem a ver com o fato de que, com essas câmeras, os policiais, o poder, na verdade, se sentem vigiados, e eles são treinados para vigiar. Não querem ver o feitiço se voltando contra o feiticeiro. O poder gosta de ver, nem sempre, porém, quer visto. Mas óbvio, isso é apenas uma impressão.