O TREM DA MINHA VIDA.

No Brasil, os estados que ainda possuem maior potencial para abertura de vias longas são Minas Gerais e Espírito Santo. São muitas montanhas de granito, paisagens incríveis e um povo muito hospitaleiro.
Eu (Ed Padilha) e meus parceiros de escalada Valdesir Machado e Willian Lacerda vivemos no Sul do Brasil e rodamos 1400 quilômetros para chegar na cidade de Afonso Cláudio, interior do Espírito Santo, a qual é cercada de montanhas de granito. Lá chegando, fizemos um tour com o Roberto Telles, escalador local, que nos mostrou diversas possibilidades de linhas, pois há muitas paredes e pouquíssimas vias. Quando pusemos os olhos na face sudoeste Pedra da Lajinha, eles brilharam, e ainda fomos recebidos com muita gentileza pelo pessoal da fazenda que dá acesso à parede.
Instalamo-nos na propriedade e no dia seguinte abrimos uma trilha de acesso de meia hora de caminhada e conquistamos 280 metros de via. Fixamos cordas e descemos para o conforto da casa da fazenda, e lá chegando os donos haviam deixado ovos e frutas frescas de presente. No outro dia, renovados por umas caipirinhas e uma boa noite de sono, abrimos mais 180 metros. Descansamos no dia seguinte, porque tinha previsão de chuva. Porém, no outro dia, quando pretendíamos chegar ao cume, choveu. Abrigamo-nos num buraco gigante na P7 e ficamos esperando a chuva parar. Lá fizemos café, dormimos e fizemos um som. De repente a chuva parou e subimos pelas cordas fixas até a P9. Iniciei o esticão em artificial, com a parede escorrendo, mas lá pela metade pude colocar as sapatilhas e sair em livre numa sequência de buracos alucinante. E assim fomos progredindo, com o clima alternando entre vento forte e frio e calor escaldante. Só conseguimos pisar no topo depois das oito da noite.
Felizes, comemos um purê de batata e desmaiamos num resto de construção antiga, abrigados do vento gelado. No outro dia, muito café e descida pela trilha. Dois dias depois, repetimos a via em um dia longo de escalada para confirmarmos as graduações de cada cordada e desfrutamos muito desta linha belíssima.
Nesta região ainda há muito para se explorar, pois a Pedra da Lajinha, que é uma montanha imensa, tem apenas duas vias, esta que abrimos e uma outra com 1150 metros de extensão. E, no entorno, há inúmeras paredes sem vias.
O nome da via vem da letra de uma das principais canções populares do Brasil, chamada Romaria. O compositor pede à santa padroeira que o proteja: “ilumina mina escura e funda, o trem da minha vida”
Informações:
Localização: Pedra da Lajinha, cidade de Afonso Cláudio, estado do Espírito Santo
Afonso Cláudio: a cidade tem bons restaurantes, bem como mercados para compra de mantimentos.
Aeroporto: Vitória, ES (distância 156 km)
Onde ficar: Sítio Lajinha Família Bragatto (airbnb)
Acesso: 20 minutos de caminhada a partir do Sítio Lajinha.