Usei esse texto de Malcolm Heath (Cognition in Aristotle’s Poetics) em um texto sobre o método diaporético. Penso que pode haver uma espécie de "unidade" ou complementação entre os texto de Aristóteles, pelo menos nos que chegaram até nós. Excelente exposição!
@RafaelSilvaLetras2 жыл бұрын
Sim, os textos do Heath defendem muito bem essa ideia de "unidade" entre as obras aristotélicas. Gostei muito do que ele propôs para a Poética. Obrigado pelo comentário e pelo interesse, meu caro! Um grande abraço e até a próxima!
@eusouoema2 жыл бұрын
Muito bom o vídeo, Rafael! Esse debate sobre a hamartia muito me interessa e fascina e tenho algumas dúvidas/reflexões. Os estudos sobre a hamartia normalmente se dividem em duas escolas, certo? 1) Aquela que relaciona hamartia com uma "falha moral", uma "tragic/fatal flaw", um vício, um defeito do personagem e 2) Aquela que não vincula hamartia com um defeito do personagem, mas um erro na ação ou decisão da personagem, uma ignorância - sendo essa a leitura predominante na crítica atualmente. Porém, tomemos essa segunda leitura: Aristóteles diz que o herói não pode ser totalmente virtuoso nem totalmente vil na tragédia. Ou seja, ele tem que ser mediano. Se a hamartia não é um defeito, se é um erro de ação, uma ignorância, o herói então seria uma vítima, um coitado e seria 100% excelente de caráter - isso não seria uma contradição aos próprios preceitos aristotélicos? Nesse raciocínio me parece mais coerente que o herói tenha pelo menos 1 defeito que o torne um ser mediano. E aí chegamos numa outra reflexão: será que não é possível que as duas visões sejam conciliadas? A meu ver, as duas vertentes não se excluem: o herói pode cometer um erro de ação justamente porque possui uma falha, um defeito. Seria pensar que o "defeito trágico" é a raiz para o "erro de ação, o missing-the-mark" do personagem. Assim, Édipo seria orgulhoso/raivoso; esse orgulho/raiva/cólera estaria na raiz de suas ações equivocadas, de sua ignorância.
@RafaelSilvaLetras2 жыл бұрын
Excelente comentário e sugestão. A meu ver, tentar conciliar as duas vertentes, como vc propõe, é possível e pode se mostrar relevante sim. O fundamental, contudo, me parece ser a dimensão do enredo: o protagonista comete um erro de cálculo por ignorância e daí resulta sua "queda" (ou sua "quase queda", a depender do enredo). A possível falha moral do protagonista é da ordem do caráter, um dos elementos previstos por Aristóteles, mas que só entra como um elemento responsável por provocar o efeito da tragédia em segundo grau. Ou seja, o determinante é a composição das ações (ainda que essas sejam necessariamente levadas a cabo por personagens dotados de certos caracteres). Resumindo: uma conciliação como essa me parece possível, desde que a precedência para entender o que está em jogo com a hamartía continue sendo considerada o enredo (e apenas complementarmente o caráter). No caso dessas discussões, a influência da tradição cristã (no âmbito da qual hamartía é a palavra grega para o que chega para nós como "pecado") acaba exercendo uma peso enorme, sobretudo nas importantes discussões do Renascimento e do Neoclassicismo francês... A contraposição a isso talvez tenha exagerado a mão no inverso, mas eu teria que reler a Poética inteira com a sua hipótese em mente para ver se ela se sustenta em todas as passagens. Em todo caso, parabéns pela sugestão! Eis algo que talvez pudesse ser aprofundado e proposta num ensaio ou artigo acadêmico. Um grande abraço e até a próxima!
@jzadra_terapeutaholistico86992 жыл бұрын
Interessante quando c falou sobre a leitura em voz alta . Em termos Teólogicos funciona na leitura do apocalipse bíblico. Essa interpretação unindo leitura e audição.
@WellingtonSilva-un9tq Жыл бұрын
Ótima aula, Rafael. Concordo com o comentário do colega ali embaixo sobre a Hamartia. Se o herói deve ser mediano ele precisa ter, ao menos, um defeito em sua personalidade/caráter. Ao meu ver, a falha (fatal flaw) de Édipo é ser "irritadinho", possuir uma certa cólera/impulsividade. Quando Édipo mata Laio na estrada, em tese ele poderia ter escolhido outro caminho, não ter brigado etc. Mas, por ser "irritadinho", ele brigou e matou o pai. Essa leitura não exclui a leitura do "erro", da "ignorância", na verdade a justifica: Édipo, de fato, cometeu um erro por ignorância (matou o pai, sem saber) mas o fez por ser colérico. Essa interpretação me parece produtiva, porque: 1) dá causalidade à ação equivocada do herói, não sendo o assassinato apenas um acontecimento repentino e ao acaso - o que iria contra aos ensinamentos de Aristóteles , 2) atenderia ao preceito de que o herói não pode ser totalmente virtuoso nem mau e 3) relaciona a dimensão do personagem com a dimensão da ação, já que são as ações e comportamentos que revelam o caráter do personagem na trama. Uma dúvida que tenho é: será que podemos pensar esse defeito como uma hybris do herói? Bom, acho que nunca teremos uma resposta correta, né Rafael? Talvez seja por provocar esses debates até hoje que as tragédias sejam tão ricas. Conheço dois textos muito interessantes que se relacionam com o assunto: Classical Storytelling and Contemporary Screenwriting: Aristotle and the Modern Scriptwriter (Brian Brice) e Laws, Errors and Excuses: Theories of Hamartia, capítulo do livro "Guilt and Extenuation in Tragedy" (Edward Forman). O primeiro - especificamente o capítulo 14 - ilustra a abordagem da Hamartia como fatal flaw (o que, percebo, ser bem comum nos estudos em língua inglesa) e o segundo apresenta todos esses debates e abordagens sobre a Hamartia. Um abraço!
@RafaelSilvaLetras Жыл бұрын
Obrigado pelo comentário e interesse, Wellington. Acho interessante essa leitura que tenta ser aberta o bastante para compreender os dois sentidos (ou três) da palavra hamartía no tratado aristotélico. Como disse, em termos de uma teoria da kátharsis na Poética, continuo tendendo mais para a leitura "racionalista" do que para a "moralista" porque Aristóteles pensa em termos de ações concatenadas no interior de um enredo. Obviamente a questão dos caracteres está presente aí e pode ser que venha associada à estrutura geral da peça... O ideal é conferir como essas possibilidades de interpretação da Poética ajudam (ou não) a compreender as tragédias superstites a fim de tentar sopesar assim seu valor como instrumental crítico. Quanto à sua pergunta, creio que você mesmo já tenha respondido a ela. O debate segue em aberto... Um forte abraço e até a próxima!
@jzadra_terapeutaholistico86992 жыл бұрын
Gosto muito do seus comentários ; de cunho acadêmico.
@RafaelSilvaLetras2 жыл бұрын
Obrigado, meu caro! Fico feliz que tenha gostado desta leitura da Poética aristotélica. Um grande abraço e até a próxima!