A natureza aparece como mediadora e referência na comunicação entre os homens e o mundo espiritual, seja na narrativa judaico-cristã, em outras narrativas, como a dos índios da costa brasileira, descritos em sua cosmologia por Andre Thevet, ou na narrativa Guarani, como se vê aqui. Na narrativa judaica, temos muitas situações em que Deus fala com os homens através da natureza, seja no arbusto que arde mas não se queima, falando com Moisés (Êxodo), o redemoinho falando com Jó (cap. 38:1), a tempestade falando com Jonas (Jonas), a mula falando com Balaão, o trovão falando com os ouvintes de Jesus (João, cap. 12) e o anjo falando com João através de sete trovões (Ap. 10:4). Portanto, a natureza é um aparato não somente de cuidado com o homem, mas assume função pedagógica, em todas as culturas, visto que ela dá testemunho de uma inteligência que preside o universo, segundo Paulo diz em Romanos 1:20. Só nisso já vemos os pontos de contato entre as sofisticadas culturas indígenas e a judaico-cristã, o que é de se admirar pela similaridade de constatações. .Por fim, segundo a massiva crônica que deles se faz, até pelos seus contrários, parece terem aprendido a repartir e doar de si, a partir da "catequese" ou "evangelização" pela própria natureza, que tudo produz para dar ao outro, sempre. Gandavo os descreve também como “juntos uns dos outros por ordem, ...sem haver nunca entre eles nenhuma diferenças: antes são tão amigos uns dos outros, que o que é de um é de todos” (Gandavo. 1576-2008: 135). Chegaram a ser vistos como vocacionados a frades franciscanos, “os quais, quando estão comendo, pode comer com eles quem quiser, ainda que seja contrário, sem lho impedirem nem fazerem por isso carranca" (Soares de Sousa, 1587, apud Cunha, 1990: 96). “Vivem sem qualquer privilégio entre eles, senão que os mais jovens devem respeitar os mais velhos, de acordo com o que exigem os costumes deles” (Staden. 1999: 97). De sorte que “sua pedagogia não previa qualquer forma de castigo aos seus filhos (assim como os Innu), e eram livres de toda cobiça e desejo desordenado de riquezas” (Gandavo. 1576-2008: 137), pelo que “eram iguais e em tudo tão conformes nas condições...conforme à lei da natureza” (Gandavo. 2008: 138). Agradeço a oportunidade de contato, e vamos nos falando, pois temos muito a intercambiar. Saudações tupinambás. .brauliocalvoso@hotmail.com facebook.com/brauliocalvoso01/