E o Resto é História: Qual foi o primeiro país do mundo?

No primeiro dia do ano, uma criança de nove anos enviou-nos esta pergunta: qual foi o primeiro país do mundo? Rui Ramos responde a uma questão simultaneamente muito simples e extremamente complicada.
O “E o Resto é História” é um programa da Rádio Observador, onde Rui Ramos e João Miguel Tavares pretendem tirar o pó à História, tornando-a aquilo que merece ser: fascinante, apaixonante, discutível e polémica.
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[@Khentiamentiu]

Como professor de História e egiptólogo de formação fiquei agradavelmente surpreendido pela referência ao Antigo Egipto como primeiro país da História, facto que subscrevo integralmente acrescentando os seguintes dados ao que foi referido neste podcast: Se assumirmos o conceito de país ou nação como um território ocupado por um só povo que partilha a mesma língua, a mesma cultura, as mesmas tradições e até a mesma religião, então todos esses ingredientes estavam juntos, de forma relativamente homogénea no Antigo Egipto, pois havia um território (do delta do Nilo até à 1ª catarata onde ficava a fronteira física com o reino vizinho da Núbia) onde vivia um povo que falava a mesma língua, partilhava a mesma cultura, as mesmas tradições, a mesma religião, tinha uma monarquia teocrática muito própria e até tinha um calendário próprio (que serviu de base ao actual calendário ocidental) e utilizava ainda sistemas de escrita próprios (o mais conhecido era o egípcio hieroglífico, mas havia também a escrita hierática - uma espécie de versão cursiva do hieroglífico - e num período mais tardio ainda se introduziu a denominada escrita demótica. Ao contrário das cidades-estado mesopotâmicas, gregas e até da própria Roma antiga, o Egipto passou grande parte da sua história com poucas ou nenhumas ambições expansionistas ou imperialistas. No período arcaico (3100 - 2686 a.C.) e no reino antigo - erradamente chamado império antigo - (2686 - c.2150 a.C.) os egípcios apenas se preocuparam em ocupar a península do Sinai para explorar algumas minas de cobre e turquesa ali existentes, do mesmo modo que enviaram algumas campanhas ao reino da Núbia mas sem um objectivo de ocupação efectiva. O Egipto imperialista e expansionista é algo a que só se vai assistir no reino novo ou império novo (1551 - 1070 a.C.) quando os egípcios após serem ocupados durante 100 anos por povos cananeus denominados (hicsos ou hekau khasut) expulsam os invasores e para não serem invadidos de novo começam uma política expansionista que no reinado de Tutmés III (c. 1450 a.C.) vai atingir o rio Eufrates na região da Mesopotâmia. Não deixa de ser curiosa a semelhança entre esta sede expansionista egípcia após a ocupação dos hicsos/cananeus do que se passou, muito mais tarde, com o expansionismo romano após o saque de Roma pelos gauleses em 390 a.C. Mas se estes factos só por si não justificarem o antigo Egipto como primeiro país ou proto-nação do mundo, creio que será importante olhar também para alguns textos literários egípcios que refletem já uma certa mentalidade proto-nacionalista como é o caso da "História de Sinuhé" ou "O conto de Sinuhé", um texto literário datado do reino médio (c. 1800 a.C.), que relata as aventuras de um alto funcionário que atemorizado foge do Egipto após o assassinato do faraó vivendo largos anos na região da Síria-Palestina até sentir o apelo interior para regressar à terra dos seus antepassados: - "Ó deus, qualquer que sejas, que decidiste esta fuga, possas tu apaziguar-te e fazer-me voltar para a residência real! Farás com que eu veja o lugar onde o meu coração passa o tempo! O que é que há de mais importante do que ser enterrado na terra onde nasci?" (O protagonista interpela directamente os deuses responsáveis pela sua saída do Egipto para que o ajudem a regressar pois, no seu entender, nada há de mais importante do que ser enterrado na terra onde se nasceu. Esta interrogação será uma das primeiras demonstrações literárias e até filosóficas de uma mentalidade proto-nacionalista, bem como de reverência e amor à Pátria). - "Volta para o Egipto! Vê a casa na qual tu nasceste! Beija a terra da grande porta dupla! Junta-te aos amigos". (Neste excerto, o faraó Senuseret exorta o seu servidor Sinuhé a regressar ao Egipto utilizando também palavras de grande significado patriótico para assim demover o interlocutor). - "Tu não morrerás num país estrangeiro! Os Asiáticos não te enterrarão! Tu não serás depositado numa pele de carneiro, nem te farão um túmulo". (No presente fragmento o faraó Senuseret continua a tentar demover Sinuhé a regressar ao Egipto, diminuindo os costumes funerários dos asiáticos face aos egípcios, numa atitude que hoje em dia seria considerada de sobranceria cultural e civilizacional). - "Fizeram entrar as crianças reais e sua majestade disse, então, à esposa real: «Vê! Sinuhe voltou como asiático, criado pelos Asiáticos!» Ela lançou um grito muito grande". (O facto de Sinuhé ter passado vários anos entre os asiáticos tê-lo-á transfigurado ao ponto de o tornar irreconhecível ao olhos do faraó e de despertar temor na própria rainha. Mais uma vez temos aqui um exemplo que actualmente seria considerado de sobranceria cultural ou civilizacional).

[@MrPfsantos]

Excelente programa. Concordo com Rui Ramos, com o raciocínio e metodologia que adoptou para responder à pergunta, nomeadamente quando refere as características identitárias que definem uma pessoa pertencente a um país. Pessoalmente, já tinha chegado à sua conclusão sobre o Egipto antigo como país. É, de facto, considerado por vários historiadores como o primeiro estado-nação do mundo. Programa muito importante.

[@vitorteixeiracorreia9270]

Feliz ano para os colaboradores do excelente programa. Historiador Rui Ramos simples e com capacidade de esclarecimento claro.

[@PatasBambu]

A propósito, aqui em Portugal discutimos com o outro: "tu nem pareces português, pá" o outro responde: "eu?! tu é que não és português, pá"! Resultado, ninguém se sente não português 😂. Ao contrário de outro países onde existe uma amalgama de regiões que passam a vida a reclamar uma identidade ancestral, não pertencente ao país geográfico onde se encontram. Portugal é um Estado e uma Nação.

[@marialauragomesmadeira284]

Muito bom, obrigada. Bom Ano! 🤩

[@mauroferreira1307]

Bom programa. Nao sei se o BE vai gostar da descrição inicial do "ser" português ou da definição do país, mas pronto...

[@raulsimoes5831]

Gosto muito deste programa que oiço sempre com bastante interesse mas este acho que foi o TOP. Adorei

[@joseaugusto9955]

👀 Desejo PAZ, muita Saúde, e tudo de bom para quem nos Vê e Ouve...

[@felisbertoesteves1123]

Bom ano para vocês também. Ouvintes e visionários, do programa, claro.

[@andreb.santos6362]

Excelente programa! Que parte de uma tese interessante! Gosto bastante do cuidado historiográfico do Professor Rui Ramos, tendo a concordar com as teses do Egipto, do Japão e China! Deixo uma correcção relativamente ao território da India, em 1961/62 houve uma alteração territorial com a tomada de Goa aos portugueses! Há também a questão de Caxemira face ao Paquistão. Deixo um abraço de um feliz 2025! Muito obrigado

[@camilasoares3517]

❤❤❤ Grata muito interessante

[@marcelosousa.2022]

Muito bom!!!

[@pod-tudocortes7565]

Assistindo desde Luanda

[@pod-tudocortes7565]

Falem do Massacre da Baixa de Cassange, Angola Malanje, visto que hoje até é dia 04 de Janeiro

[@brunof.guedes6453]

A título de curiosidade: Determinar o "primeiro país a existir" depende de como definimos "país". Se considerarmos sociedades organizadas com liderança, leis e território, a resposta remonta às primeiras civilizações. Aqui estão algumas possibilidades: 1. Suméria (c. 3100 a.C.): Localizada na Mesopotâmia (atual Iraque), é amplamente considerada a primeira civilização organizada, com cidades-estados como Ur e Uruk. Os sumérios desenvolveram sistemas de escrita, governança e religião complexos. 2. Egito Antigo (c. 3100 a.C.): O Egito foi unificado sob o governo de Narmer (ou Menés), criando um reino centralizado com fronteiras bem definidas, cultura própria e um sistema administrativo sofisticado. 3. Elam (c. 2700 a.C.): Uma das primeiras civilizações na região que hoje é o sudoeste do Irã. Era contemporânea à Suméria e ao Egito. 4. Império Acádio (c. 2334 a.C.): O primeiro império verdadeiro, fundado por Sargão da Acádia, que uniu várias cidades-estados sob um único governo. 5. China (c. 2070 a.C.): A Dinastia Xia é considerada o início da civilização chinesa, embora suas evidências sejam em parte lendárias. Essas civilizações são os predecessores dos países modernos, mas o conceito de "país" como o entendemos hoje só surgiu muito depois, na Idade Moderna, com a formação dos Estados-nação.

[@gustavotblanco]

Magnífico. Bem hajam. Um FeliZ 2025 !

[@manuelferreira4968]

Terra & Sangue & Língua , são os três elementos da Nacionalidade. ( e depois não digam que eu não avisei)

[@telmopascoal8767]

Falou na Acádia como Império, Mas antes existiu a Suméria como Estado. Foi aí que foi inventada a escrita cuneiforme no ano 3300 a. C..E também era na Suméria que existia um território defenido onde habitou a primeira população da Mesopotâmia.

[@Rotebuehl1]

defInIdo! Escreve-se com dois "is"! E falou de Acade, nao de Acádia! A Acádia fica no Canadá!

[@joseaugusto9955]

👀 💬 !... !... !... 🤔

[@telmopascoal8767]

@@Rotebuehl1 Sim é definido. Foi lapso. Obrigado pelo reparo. Antes da civilização da Babilónia, de Hammurabi, existiu a civilização da Acádia ( pelo menos é assim que alguns historiadores a designaram, sem prejuízo de haver outros que a designem de Acade), com várias Cidades-Estado. A designação não é o mais importante para a distinção feita entre Império e Cidade-Estado, a fim de identificar as características de um país, como muito bem foi feita, apenas referindo e acrescentando, que se falou em população; conceito que inclui não só os cidadaos nacionais, mas também os cidadãos estrangeiros a residirem no país. Em vez disso, talvez se devesse substituir o termo população por povo, que inclui , não só, os cidadãos nacionais que residem no país, mas também os que são emigrantes e que partilham a mesma língua, a mesma cultura e, maioritariamente, a mesma religião . Camões designou o povo português por "gente lusitana". Ortografia do Google: " Acádia. O povo acádio chegou à mesopotâmia no período entre 2550 a.C. e 2300 a.C., durante a dominação suméria na região. Anos depois, os acádios conseguiram dominar o território com o rei Sargão, formando, assim, o Primeiro Império Mesopotâmico ao unificar as cidades-estado sumérias." Acádia que é uma região do Canadá, locaiizadas em várias províncias, banhadas pelo Oceano Atlântico, nada tem a ver com a Civilização Imperial, instalada em territórios da Antiga Mesopotâmia. O Estado da Geórgia, localizado no sudeste dos USA, nada tem a ver com o Estado e país da Geórgia, localizado no Cáucaso, banhado por praias do Mar Negro. Bom Ano de 2025

[@guidagouveia9542]

Uma pequena de 9 anos pergunta ,qual foi o primeiro pais do mundo. A resposta,que é magnifica, já fez adormecer a criança.Eu,pouco culta, pergunto qual foi o primeiro país do mundo ?

[@Rotebuehl1]

E então qual foi a resposta dada?

[@joseaugusto9955]

👀 Talvez com um desenho fique mais fácil, e possa ajudar não !... 😬

[@scp1904]

Sinceramente talvez o programa mais mal conseguido. Muito confuso, com misturas de conceitos e muito pouco consensual. Tenho pena da moça que deve ter ficado muito confusa…😂

[@luisreis2186]

São só Dois Artistas...revisionistas. O (Hoje) Liberal (saído das últimas páginas do DN graças a um tipo chamado Sócrates que queria 50 mil ) e um historiador com agenda revisionista que até quase afirmou que não houve fascismo em Portugal ... está tudo dito.

[@grandtourpeninsular9347]

Me admira ver como a homogeneidade de Portugal (relativa) faz que este senhor não possa reconhecer como países outros que são complexos. A República de San Marino é muito mais antiga do que Portugal e os outros países que mencionou. Mesmo Russia, por não falar da Armenia, Bulgaria… Que houve periodos que à Bulgaria e a Armenia estavam integradas sob outros imperios? Também foi o caso de Portugal.

[@Maria-js9ou]

Não foi não, de 1580 a 1640 os reis de Portugal também o eram de Espanha, mas eram países diferentes.

[@joseaugusto9955]

👀 Será que São Marino, Andorra, Mónaco, o próprio Vaticano, etc... etc... são Estados ou são Países !?... As pessoas muitas vezes confundem o que é um Estado, e o que é um País...

[@joseaugusto9955]

👀 Saber de História é preciso estudar, e muito, não é ir ao Google pesquisar o que outros lá escrevem e depois não saber responder o porquê !... Como é que as coisas acontecerem ao longo dos séculos, e dos anos até aos dias de hoje !... Por exemplo Roma nunca foi considerado como um País, mas sim como a Capital de um Império que dominou todo território há volta do Mar Mediterrâneo... Não podemos olhar para o passado da mesma forma que olhamos para as coisas hoje, Eram épocas, e tempos muito diferentes daquilo que é hoje, Não existiam fronteiras delineadas numa boa parte do território Europeu...

[@joseaugusto9955]

👀 Não podemos misturar as coisas Castela e Espanha são coisas diferentes... Castela era aquele território que é hoje toda a região de Madrid, A Espanha é constituída por várias regiões, e sabemos dos conflitos e dos vários problemas que existem até hoje com regiões como o País Basco, e a Catalunha contra Madrid ... O hino de Espanha se repararem é só tocado, é só música, não tem letra para ser cantado certamente que é por alguma razão face ás diferentes Regiões... só o Reino de Portugal se conseguiu manter à margem, e se tornou independente de Castela na Península Ibérica...

[@joseaugusto9955]

👀 Uma boa parte de países Europeus só definiu as suas fronteiras no séc XX, depois da 2° Guerra Mundial, Depois já no final dos anos 80 com a queda do Muro de Berlim, e com o Fim daquilo que éra e foi o Império Comunista Soviético que através de Estaline se tinha apoderado de outros países através do Uso da Força... Estaline fez aquilo que Hitler queria fazer quando começou a 2° Guerra Mundial que era absorver e dominar parte dos Territórios dos países Europeus... Estaline além de englobar países no Império Comunista Soviético, e na URSS ainda obrigou a impor o Comunismo em todos os países do Leste Europeu, que viria a ficar conhecida como a Cortina de Ferro, ninguém podia sair desses países Comunistas... LIBERDADES = ZERO