Bresser: qual a diferença entre déficit público e déficit em conta corrente? | Cortes do Reconversa

[@reginabueno26]

Que delícia ouvir um homem inteligente, lúcido, perspicaz…muito raro hoje! 🥰

[@anahelenadonascimento9231]

Eu assisti , há pouco , um corte do Jornal WW de ontem à noite e o representante da ABIMAQ , que é a associação que representa a indústria de transformação , estava colocando da grande preocupação com a concorrência dos produtos chineses . Está havendo uma importação crescente no país por conta do grande excedente de produção na China , onde o mercado interno não absorve e a grande redução de exportação para os EUA tem contribuído bastante para esse excedente . O economista Bresser-Pereira está chamando atenção sobre algo que parece ter a ver com isso : o déficit de conta-corrente que está preocupante , ou seja , o Brasil vem importando muito e com isso prejudicando o setor da indústria que usa alta tecnologia . Ele diz que o dólar para o agronegócio é favorável quando está em 4,50/4,70 reais. Já para a indústria , é favorável quando está a 5 reais . Nesse momento , o dólar está em 5 ,55 . Daí , ele explica como essa diferença afeta a economia , tornando necessária um aumento das tarifas aduaneiras

[@dbuenofonseca]

ÒTIMA EXPLICAÇÃO

[@veigafer]

Bresser está parcialmente correto. Entretanto, o fato de ele omitir a conta de capital, na análise, configura amputação limitadora. E esse é um elemento crucial, para efeito da análise do resultado em conta corrente, assim como da análise de outros fenômenos igualmente importantes. Os movimentos de capitais, no presente, moldam o comportamento da conta corrente, no futuro. Para que haja engajamento da economia, no movimento de capitais, entretanto, é preciso que o sistema financeiro seja funcional, assim como que as taxas de juros, no Brasil, sejam internacionalmente competitivas. A economia que não atua, na conta de capitais, é um saci-pererê econômico.

[@eron799]

Há muito tempo tenho admirado o sr. Bresser-Pereira por estar disposto a propor, sempre. No entanto, tenho que o grande problema no Brasil, em que tudo o mais está subordinado, é o sistema de tributação nosso, por ser extremamente regressivo. A regressividade extremada funciona como um rentismo camuflado. Um sistema onde os que detêm 50% dos ativos reais e financeiros (nacionais e estrangeiros) seriam os eleitos a pagar os tributos necessários para o financiamento do Estado. As empresas não seriam tributadas, a produção e o consumo não seriam tributados, mas sim os que detivessem os ativos cuja somatória atingisse 50% dos ativos no Brasil. Só assim teremos uma economia que poderá crescer constantemente, bastante, com juros baixos, e sem inflação.

Certamente é um grande problema, afinal não tem industrial ideológico que vá investir na indústria quando o mercado financeiro/rentismo está dando maior retorno sem risco. Mas acho que a questão cambial é mais séria (ou tanto quanto): como você vai investir correndo o risco de em curto tempo o seu produto ficar 30% menos competitivo? É óbvio que tem que usar tarifas, todos os países desenvolvidos usam, mas as pressões contrárias são muitas; os produtores de commodities fazem lobby e compram a mídia (quando já não são donos), os neoliberais fazem a campanha de sempre contra qualquer "imposto" ou intervenção estatal e os governos têm incentivo de fazer populismo econômico e "aumentar" o poder de compra da população.

[@eron799]

Um sistema tributário tal qual o que propus manteria a mesma carga tributária de hoje, porém sobre os mais ricos. Isso liberaria a massa trabalhadora para consumir mantendo uma boa taxa de investimento.

@@eron799 isso é outro assunto. Todo mundo sabe que sistema tributário é regressivo. Ele está falando (e eu estou tentando reforçar) é que sem tarifas de importação o câmbio (logo, a indústria) fica muito vulnerável ao ciclo das commodities.

[@eron799]

Eu entendi, mas discordo em parte. Em um sistema tributário tal qual proponho o controle da taxa de câmbio seria muito mais simples, ou seja, manteria o real em um valor apropriado para a indústria, mas não só. A tributação progressiva sobre os detentores maiores de ativos reais e financeiros obrigaria-os a investir cada vez mais. Ao governo caberia ter reservas apropriadas pela compra de moeda de reserva internacional. Sei que o assunto não é tão simples mas o equilíbrio fiscal com o alto investimento, privado e público, passa pela desoneração total dos tributos sobre o consumo e a produção.