#TASTE

Algumas iguarias gastronómicas são designadas pelo objeto de suporte da mesma, nas quais são confecionadas e/ou servidas, assumindo a sua designação como parte integrante da manifestação gastronómica. Neste caso, o utensílio de cozinha utilizado para a confeção deste doce é a tigela/ caçoila de barro vidrado que vai ao forno de lenha. Normalmente, este doce era preparado em dias de festa e após a cozedura do pão. Atualmente, é confecionado em qualquer altura do ano e, por norma, utilizam os fornos domésticos e/ou industriais.
Este tipo de iguaria encontra-se registado/ transcrito desde finais do século XV início de XVI em O Livro de Cozinha da Infanta D. Maria de Portugal. "Filha do infante D. Duarte e neta do rei D. Manuel I, a Infanta D. Maria de Portugal (1538 - 1577) casou com Alexandre Farnese, Duque de Parma e Piacenza em 1565. Ao deixar Portugal, a Infanta D. Maria terá levado consigo uma série de pertences, no qual se incluía um manuscrito de cozinha com 73 folhas, encadernado em carneira" (AMASS COOK). Neste livro encontra-se referenciado como Tigeladas de leite à D. Isabel de Vilhena, receita que tem ligação com as tigeladas que, hoje-em-dia, designamos por Tigelada de Abrantes, sendo reclamada a sua origem no Convento da Graça de Abrantes (ver Arquivo Histórico do Concelho de Abrantes).
No entanto, a manifestação gastronómica aqui abordada aproxima-se, efetivamente, do receituário da Tigelada das Beiras, tendo como ingredientes "um litro de leite, casca de limão, doze colheres de sopa de açúcar, doze ovos, sal" (ALDEIAS DO XISTO). Como podemos constatar esta não leva farinha, como a receita anterior.
Para a preparação desta tigelada basta colocar os ingredientes num recipiente de barro vidrado, batendo-os bem, juntando o açúcar, a casca de limão e leite. De seguida "retira-se a casca de limão e [...] vai para o forno de lenha bem quente, durante uma hora" (ALDEIA DE XISTO). Após esse tempo é retirado do forno e deixa-se a arrefecer, cortando-se, depois, a tigelada em fatias e servindo-se em pratos. Esta receita não leva canela apesar de, atualmente, e por gosto pessoal, a polvilham com canela antes de servir.
Aquando de uma breve pesquisa verificamos que existe uma variedade imensa de doçaria intitulada de tigelada. Assim sendo, temos as tigeladas de Abrantes ou tigeladas de Ferreira do Zêzere, a tigelada de Vila Velha de Ródão, a tigelada da Beira, a tigelada da Beira Baixa, a tigelada de requeijão (Idanha-a-Nova), a tigelada (Oliveira do Hospital), tigelada de Pombal.
No arquipélago dos Açores não encontramos registos da sua chegada. No entanto, foi absorvido como sendo um produto regional muito apreciado. Para o efeito deslocamo-nos ao concelho do Nordeste, na ilha de S. Miguel, para conhecer a receita de tigelada tradicional à moda do chefe Dinis Pacheco.
Podemos encontrar a confeção deste doce nos seguintes locais: Portugal: Beira Alta e Beira Baixa, Abrantes, arquipélago dos Açores, arquipélago da Madeira (pudim de veludo). Diáspora: Bermuda.
Vídeo produzido no âmbito do trabalho de campo realizado pelo projeto TASTE - Taste Azores Sustainable Tourism Experiences.
TASTE é um projeto desenvolvido pelo CEEAplA (Centro de Estudos de Economia Aplicada do Atlântico) e pelo CHAM - Centro de Humanidades da Universidade dos Açores, com a colaboração da Direção Regional da Cultura do Governo Regional dos Açores. Projeto financiado pelo PO Açores 2020 ACORES-01-0145-FEDER-000106
Acompanhe este projeto em: www.youtube.co....
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