O QUE EU APRENDO COM OS PACIENTES QUE TEM DEPRESSÃO | Dra. Simone Matos Rosolem

É muito comum que pacientes que sofrem com depressão tenham vergonha e medo do diagnóstico!
Por isso, precisamos cada vez mais acabar com este tabu e conversar sobre saúde mental!

[@jonesilvasilva]

Bom dia Dra. Simone. DESCULPE O MEU DESABAFO, Dra. A senhora parece não conhecer a realidade do estigma que vivemos. Sou advogado criminalista há 18 anos e vejo pessoas que cometeram crimes terríveis serem muito bem aceitas pela sociedade em comparação com uma pessoa que tem um transtorno mental. Experimente falar que você é bipolar para ver se você consegue um emprego, uma namorada ou até mesmo novos amigos. Eu não vejo ninguém fazer vídeos pensando em acabar com o estigma; muitos psiquiatras e psicólogos fazem vídeos generalizando as pessoas que sofrem de bipolaridade e outras doenças mentais. Muitas vezes vejo casos em que pessoas cometeram atos terríveis, mas depois aparecem com uma nova namorada ou emprego novo (sim, todos merecem uma nova oportunidade). No entanto, se você falar que é bipolar, nem mesmo sua namorada vai querer ficar com você. Ontem estava vendo um vídeo em que uma psiquiatra dizia que todo bipolar é violento em momentos de crise (eu quis morrer de vergonha). E como se não bastasse, agora estão fazendo vídeos dizendo que o bipolar tem uma grande chance de ser narcisista, ou seja, só coisa ruim. Entende agora por que é impossível falarmos abertamente sobre isso? Sem falar da falta de bons profissionais psiquiatras que têm um bom trato com seus pacientes. Eu tinha uma psiquiatra que, depois de uma grande crise, me receitou vários remédios, mas não me falou nada sobre eles. As consultas não duravam 20 minutos, quase sempre só ela falava. Tive uma reação que atrapalhou minha libido; quando falei com ela, ela simplesmente me passou um Viagra, em vez de dizer que tínhamos outras opções. Acabei abandonando o tratamento, ficando apenas com a psicóloga, mas depois tive uma grande crise e fui internado. Hoje estou fazendo o tratamento, mas veja bem, essa psiquiatra me acompanhou na internação e me explicou como seriam os remédios. Tudo isso particular. Minha família não sabe da minha internação nem da minha bipolaridade, minha namorada também não sabe, e eu escondo os remédios. Quando tenho que viajar com ela e a viagem dura cinco dias, sei que vai ser difícil esconder os remédios, então não os levo e fico sem tomar, já que isso é raro de acontecer. Apenas um amigo sabe da internação e minha psiquiatra, em quem tenho bastante confiança. Já tive várias crises porque nunca aceitei o diagnóstico e o tratamento, mas nunca fui agressivo com ninguém, nunca usei drogas ou qualquer coisa ilícita. As pessoas precisam saber que primeiro vem a pessoa, depois a bipolaridade, ou seja, a personalidade da pessoa é válida. Como minha psiquiatra me falou, não é regra geral que o bipolar seja violento. Já fui diretor de empresa com mais de 100 funcionários e quando saí da empresa, saí porque não poderia manter a diretoria e a advocacia, mas todos os funcionários me adoram. Minhas reações nas crises são chorar muito e querer acabar com a vida porque o sofrimento é muito. No mês passado, isso quase aconteceu. Sim, estou tomando os remédios, mas fiz a besteira de tomar um termogênico importado que é proibido no Brasil, que comprei em outro país. Nós não podemos usar termogênicos. O que aconteceu foi que veio uma crise terrível; tive que cancelar uma prova que iria fazer e parar a segunda pós-graduação. Estou agora melhorando, mas é preciso ter paciência com o remédio, então estou naquele momento de chorar e ficar no meu quarto. Nunca fico com raiva, só impaciente, mas isso logo vai passar. Minha experiência sendo bipolar tipo 2 e tendo TDAH é grande e sofrida, especialmente porque tudo que busco é particular. Encontro médicos sem empatia, o sofrimento com essa doença é intenso, e enfrento crises em outros países onde morei ou visitei. As dívidas que contraí devido à compulsão trouxeram muito sofrimento. Hoje, entendo porque meu amigo se matou e, no mês passado, uma vizinha pulou do 10º andar. Todos tinham depressão bipolar, e não é no momento de crise que isso acontece, é depois. Escrevo com lágrimas nos olhos, mas como não tenho ninguém para falar sobre isso, além da psicóloga ou do psiquiatra, acabo escrevendo. Este é um apelo para que possamos acabar com o estigma. Somos seres humanos, nosso sofrimento é muito grande, a dor que sentimos e a desesperança são constantes. Esse é um apelo, não sei quanto tempo vou poder ficar aqui tentando acabar com o estigma, isso machuca muito. Espero que as pessoas possam ter mais aceitação para que eu e outros como eu, que sou bipolar tipo 2, possamos sair de nossas cavernas e mostrar nossos rostos. Não queremos que sintam nosso sofrimento, mas que não nos rotulem como pessoas ruins. É triste escrever isso, tenho lutado muito, mas hoje eu penso que não vou conseguir sobreviver a outra crise. Estou cansado e sem rumo. Obrigado pela sua atenção, Dra.