Рет қаралды 2,956
Nos últimos anos, houve um acirramento da crise socioeconômica em nosso país, com aumento da taxa de desemprego , bem como uma precarização das políticas públicas de assistência e promoção social. Isso levou a um aumento do número de pessoas em situação de rua. Entre 2012 e 2020 esse aumento foi de 140 %. Homens são maioria nessa condição, mas o número de mulheres tem aumentado. Além disso, quase 70% das pessoas em condição de rua são negras, o que aponta para um longo processo de injustiça social, fruto dos quase 400 anos de escravização das populações negras trazidas das nações africanas e a forma como feita a abolição: sem nenhuma política de inclusão social e reparação histórica com o povo negro e seus descendentes.
Se estar nas ruas já traz várias vulnerabilidades em geral, no feminino estas vulnerabilidades se avolumam, pois além de todas as violências possíveis, mulheres sofrem especificamente violências físicas de seus parceiros, bem como sexuais.
Nesta live, abordamos as histórias de vida de meninas e mulheres que estão em situação de rua em uma grande capital brasileira. Nossa convidada especial foi Iara Flor Richwin, psicóloga, mestra e doutora em Psicologia Clínica e Cultura/UnB e atual pós-doutorando do Programa. Seu tema de pesquisa é mulheres em condição de rua. Na etnografia e nas entrevistas destacaram-se, primeiro, as violências de gênero que servem como fatores precipitadores para que a rua seja ressentida como um lugar de"alívio" para essas mulheres: a) quando ainda meninas, violência doméstica e familiar do pai contra a mãe, abuso sexual e estupro infantil; b) quando adultas, sobretudo a violência recebida por parceiro íntimo. Além disso, também, ficaram evidentes as violências estruturais, que colocam as mulheres em uma situação de uma vulnerabilidade ainda maior: a dificuldade de acesso não apenas a empregos, quando se mora nas ruas, mas mesmo a "bicos" ("quem vai deixar eu ser babá do filho dela se eu moro na rua?"). Terceiro, foram apresentadas as violências cotidianas a que estas mulheres são submetidas por se encontrarem na situação de morarem na rua.
Por fim, nas entrevistas, destacou-se o sofrimento dessas mulheres no campo amoroso, apontando para o funcionamento do dispositivo amoroso em sua especificidade: ter um homem, nas ruas, além de ser identitário para elas, é ressentido como um fator de proteção (contra outros homens), ainda que o companheiro seja um agressor.