NIDES 10 anos

A primeira de muitas décadas!
Hoje, dia 28/02/2023, o Nides/UFRJ completa dez anos. Os que acompanharam o processo sabem o desafio que foi criar uma unidade no Centro de Tecnologia que visasse colocar os interesses dos trabalhadores e das trabalhadoras como objetivo primeiro do desenvolvimento tecnológico. O Nides nasceu como a forma de concretizar uma utopia: construir uma tecnologia que esteja submetida às necessidades do povo brasileiro. Para avançar nessa direção, é inevitável travar a luta por uma universidade pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada.
O campo da Tecnologia e Desenvolvimento Social, na UFRJ, vem sendo construído pelo menos desde o início da década de 1990, por diversos grupos que foram se consolidando nos últimos 30 anos. Entretanto, em 28 de fevereiro de 2013, ao criar o Nides, a UFRJ referenda a proposta de que é preciso que o processo acadêmico-científico que se desenvolve no seio do campo tecnológico nutra-se mais do contexto das populações marginalizadas, das populações historicamente alijadas do processo tecnológico.
Em suas atividades de extensão, pesquisa e ensino, o Nides vem consolidando uma nova prática acadêmica, em que os problemas encontrados dentro das ações de extensão são os catalisadores dos processos de ensino e pesquisa. O que nos move não é um interesse abstrato de pesquisa, uma reflexão teórica estéril, ou o objetivo de uma formação técnica dos estudantes que esteja desconectada do território e da realidade. O que orienta nossa prática universitária são as necessidades concretas que possuem os/as agricultores/as, os/as moradores/as de favelas, os/as catadores/as de material reciclável, os povos tradicionais (indígenas, quilombolas, caiçaras), os/as integrantes de cooperativas e empreendimentos econômicos solidários. É a busca pela contribuição com a educação básica, a educação popular e as diferentes expressões da nossa cultura popular. E por meio desse movimento, avançamos na popularização e democratização do ensino superior. Nossas publicações, sempre disponíveis digitalmente, ilustram esse objetivo e as experiências que estamos construindo (nides.ufrj.br/... nides.ufrj.br/....
Como dizia o poeta Belchior, “Viver é melhor que sonhar”. O Nides é a experiência viva de um sonho de muitas pessoas. Alguns que já não estão entre nós, e a quem gostaríamos de registrar nossa gratidão nessa celebração dos dez anos: Fernando Amorim, Luis Henrique Costa, Aloísio Teixeira, José Cubero, Clóvis Bucich, Protásio, Ravengard, Antônio Cláudio. Além disso, é preciso registrar todo nosso carinho e agradecimento aos mestres e aos funcionários que, estando mais próximos ou mais distantes neste momento, seguem contribuindo e sendo referência para nossa luta, hoje protagonizada, principalmente, por servidores mais jovens. Ter vocês ao nosso lado, para uma reunião, um telefonema ou uma simples consulta por mensagem é um pilar muito importante na construção do Nides.
Precisamos fazer referência também aos nossos parceiros na sociedade, os movimentos sociais, as organizações comunitárias, as escolas públicas, os povos tradicionais, os empreendimentos solidários, que não são “beneficiários” dos nossos projetos, mas parceiros na construção desse sonho, e um espaço de aprendizado imensurável, tanto para os/as estudantes, quanto para os/as professores/as e técnicos/as.
Mas principalmente, nessa comemoração dos primeiros dez anos, gostaria de destacar a importância de quem está chegando, de quem não esteve na construção do Nides, mas que chega e abraça esse sonho como se fosse seu, e que defende com unhas e dentes suas pautas, suas causas, seus projetos. Os/as novos/as professores/as, os/as novos/as servidores/as e os/as estudantes que agarram com as unhas essa luta, enfrentando todas os desafios que é propor um ensino de qualidade e socialmente referenciado na universidade pública brasileira. Sem dúvida, são vocês que dão o combustível para nosso dia a dia e que serão capazes de manter esse sonho vivo, real, concreto.
O escritor Eduardo Galeano defende que utopia é como o horizonte. Você vê que está ali, tem ele como referência; e a cada dez passos em sua direção, ele se afasta dez passos. É para isso que serve a utopia; não como uma meta a ser atingida, mas como algo maior que nos faz caminhar em sua direção.
Vida longa ao Nides; vida longa à UFRJ. Viva nossos primeiros 10 anos. Tenham certeza que seguiremos com afinco, por muitas décadas, na luta por uma universidade cada vez mais comprometida com o bem-estar da população brasileira.
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Felipe Addor
Diretor Geral do Núcleo Interdisciplinar para o Desenvolvimento Social - Nides/UFRJ